"Ser como o rio que flui" by Paulo Coelho / Ed. Agir
Ser como o rio que fui
©Alexandros Papadopoulos Evremidis*
Neste livro, mais que em qualquer outro, Paulo Coelho, em tom intimista e personalizado, oferece uma palavra, cortada e costurada sob medida para cada um de nós; uma nota musical; uma pedra de toque; uma chave; uma senha...
Paulo não nasceu ontem - nasceu há dez mil anos atrás (sic para o enfático pleonasmo) e, sinonimando tempo com experimentação e daí experiência, entrou em relação de conhecimento com quase tudo que neste e em possíveis outros mundos, paralelos ou concorrentes, reais ou imaginários, há.
Na juventude, ele se fez cobaia de si mesmo e conheceu a aventura, a exaltação, o êxtase. Mas também se digladiou em corporal luta com o bem e o mal e se viu dilacerado pela dor e pelo sofrimento. Em dado trecho do percurso (que ainda não era O Caminho, mas talvez fosse condição e propedêusis para ele), o delírio e a agonia - o pai o internou para repouso, respiração, meditação. "Fazer a cabeça" no prescrito isolamento. Cabeça que ele já fizera, mas por outros meios, os alternativos, não os/aos ortodoxos.
Estóico, Paulo, feito o que tinha que ser feito, fez o feito de das cinzas renascer e se preparar para a Grande Passagem.
Passo a passo, passou então a trilhar o ora plano e ora íngreme, ardiloso, Caminho que o confirmaria corifeu. E escreveu encantadores e lindos e superlativamente lidos livros parabólicos (sim, pois ele próprio é parabólico) de aparente inocência e que, de tão anabólicos, tiveram até então insuspeita ressonância e alcance e ressoaram e alcançaram em múltiplas fornadas os com crítica fome e sede. Psíquica.
Neste ser como o rio que flui, e que soa e ressoa e também sugere ser como o rio que fui, o leitor encontrará orvalhadas analgésicas refinadas gotinhas destiladas cristalizadas adiamantadas - o sumo e o suprassumo, o resumo de tudo quanto Paulo aprendeu na caminhada e agora re_deseja re_compartilhar com você e comigo. Para, sendo ele egresso da dor, mas também, posto ele humano ser e daí ainda e sempre a ela sujeito, a sua dor e a alheia, e por alheia entendo a sua e a minha, caro leitor, aliviar. Com simpatia e toda empatia. Sem angelizar nem satanizar. Apenas amenizar.
Final: Paulo Coelho, como tudo que humanum est, até Deus - humana criação -, é discutível, mas não... ignorável. Pode-se amá-lo e/ou odiá-lo, mas nunca lhe ser indiferente. Quem por ele uma vez tocado, carregará o sinal para sempre.
Ufffa! Também eu estou agora aliviado. Digo porque, em tempos idos, escrevendo sobre Christina Oiticica, companheira de boa, da melhor! parte da vida de Paulo, fiz menção a maldosos comentários circulantes, que veementemente desclassifiquei, que diziam não ser ela artista de pleno, mas sim oportunista aproveitadora da fama do marido, eu havia prometido, a você e a mim, leitor, data venia, também tomografar o Paulo. Agora, tarefa comprida em parte cumprida, pois, este meu depoimento não é bem uma tomografia, mas já é um círculo de fogo e um bom começo para um esboço. Torço e também peço que torça para que um dia, ou uma noite, eu possa aprofundá-lo, que completo mesmo nunca poderá ficar. E por nenhuma outra razão, senão a de Paulo, e como ele também todos nós, ser como um rio que flui.
Fui. Mas, como todo rio, darei literalmente a volta por cima e re_direi.
Rio de Janeiro 2009
Alexandros Papadopoulos Evremidis = > escritor crítico > Email
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