Gustavo Speridião
Nen precisa saber ler escrever desenhar para dizer©Alexandros Papadopoulos Evremidis
Já mandei pelo InformArt para todos quantos o espantoso inteligente surreal de tão real e confessional release, escrita automatissintomática, desse rapaz na semana passada e quem leu, leu, quem não leu se perdeu, para não dizer outra coisa.
O que eu digo agora após ver e crer é que fazia tempo que não via uma enxurrada tão imaginativa, criativa, inventiva (e olha que nada é novidade sob o sol) e com a mais-valia (sim, a arte também deve nos fazer rir e divertir) de bem-humorado humor, irreverente, irônica e sarcasto-cáustica. Caótica e ainda assim (muito bem) amarrada e (melhor) ordenada.
Deve ser, pensei, de tanto conviver com os mofados vetustos mestres (com todo respeito e, claro, carinho) no museu de belas artes do rio onde trabalhou e acabou pulando fora para dar expressão a tanto, e ele é novinho, de coisas represadas, agora floridas e florescidas.
Na sala maior da Artur Fidaldo, ele re_escreveu a estória (sic) da arte (disse ele que ainda não vi nada!) e na salinha íntima ao lado escreve seu/dele (e também meu, teu, seu, leitor) diário do dia-a-dia (sic também) em dezenas de cadernos todos rabiscados, desenhados, escritos, sobrescritos (sobre desenho, mais óbvio, desenho sobre - não foi o que ele disse?!).
Bem, chega, se eu escrever tudo, você não vai lá conferir e sentir. Vai lá, vai lá. E depois me conta. Ah sim! Falei pra mãe dele que era pra prender esse rapaz, acorrentá-lo mesmo, que ele era capaz de explodir/implodir, está bem, demolir (Abbau) este imundo mundo. Só (?) para ter o prazer de reconstruí-lo (Aufbau) de novo e a seu modo e moda. Disse o mesmo pra mulher dele. E pras duas: sem elas, nada daquilo teria sido possível nem existiria (já que o impossível inexiste). E não me referia à biologica nem ao romance, mas à sinergia, formação e construção. Isso sem falar nos que teceram as telas, fabricaram os papéis, tintas, lápis e ápis, escorrendo mel. (Eu queria mesmo era ver gravados nas pedras das pirâmides, um por um, os nomes de cada um dos que as levantaram junto com os faraônicos). E, sim, quando o ciberneta de artistas Milton Machado me disse que o rapaz fora seu orientando, exclamei "Ah! então está tudo explicado". E finalmente apontei o viveiro de visitantes, um mar de gente, cujos sentimentos afirmativos e entusiasmados havia auscultado, e disse pro fidalgo Fidalgo que 1 x + ele havia acertado. Que aquele enxame era o sinal. Moral: esse rapaz vai nos dar muito trabalho. Tabalho em progreprocessamento.
Rio de Janeiro 2008
©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > Email
Escrevi esses desenhos com a pena da galhofa e a tinta da revolta, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. A revolta é sempre engraçada, e a galhofa me faz rir às vezes. Acresce que a gente grave não achará nos desenhos seu romance usual, ao passo que a gente frívola achará neles umas aparências de puro romance; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião. Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião e o primeiro remédio é fugir a um release explícito e longo. O melhor release é o que contém menos coisas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, contarei adiante os processos extraordinários que empreguei na composição destes 2.321 desenhos, trabalhados cá com apenas duas pernas. Será curioso, e extenso, e aliás proveitosamente desnecessário ao entendimento da obra. Melhor seria explicar como me tornei bípede. Por isso, a obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino expectador, pago-me da tarefa; se não te agradar, pago-te com uma nuvem, e adeus.
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