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"Os lentos anos de Santinha na companhia de Emiliana" by Eliziário Goulart Rocha

Ed. Letras Brasileiras.

Os lentos anos de Santinha na companhia de Emiliana, terceiro romance de Eliziário Goulart Rocha, completa uma trilogia da qual fazem parte Silêncio no Bordel de Tia Chininha (2001) e Dona Deusa e seus Arredores Escandalosos (2002). Os três romances foram escritos de um fôlego só, no segundo semestre do ano 2000, num período de grande vigor criativo.

Eliziário é um estilista da palavra. Silêncio no Bordel de Tia Chininha foi saudado pelo crítico Deonísio da Silva como um dos melhores romances do alvorecer do século 21. Em Os lentos anos de Santinha na companhia de Emiliana, como nos outros dois títulos da trilogia, a construção dos personagens é detalhada, o autor desce às minúcias de suas personalidades – durante a leitura podemos quase tocá-los. As situações são apresentadas de maneira visual, como um roteiro cinematográfico – dá para imaginar a atmosfera dos ambientes, sentir a emoção dos protagonistas. É como se morássemos no andar de baixo e pudéssemos ouvir o arrastar dos seus chinelos, respirar o cheiro de suas panelas e, às vezes, cumprimentá-los na entrada do prédio.

Os três romances têm rigorosa unidade narrativa, notável já nos títulos longos. Mas são absolutamente independentes entre si, embora alguns personagens apareçam aqui e acolá, como o Dr. Álvaro, cuja pobreza atesta longa vida de honestidade e cujos diagnósticos precários comprovam que não merece mais do que isso. Ele é o médico da cafetina Chininha, do mulherengo Rochinha – personagem principal de Dona Deusa – e de Santinha e Emiliana.

O autor usa diversos recursos para garantir a unidade literária de sua trilogia, que vão desde aspectos formais da linguagem – alguma erudição idiomática, sem qualquer concessão ao chulo, porém sem afetações ou desrespeito ao leitor – até a delicadeza com que trata suas personagens. Entretanto, o recurso mais importante é que as três histórias são contadas por mulheres – mesmo quando o personagem principal é um homem (Dona Deusa). Apesar de exibir excepcional domínio da escrita literária, surpreende a propriedade com que Eliziário decifra os desejos, angústias, fortalezas, fragilidades e sutilezas do universo feminino.

Nos dois romances anteriores, as mulheres, apesar de subjugadas pelos homens e de pouco determinarem seus destinos, ainda assim têm opções de buscarem a felicidade – e, de certa maneira, conseguem, se não serem felizes, pelo menos apaziguarem seus anseios. Em Os lentos anos de Santinha na companhia de Emiliana, não há saída – a falta de perspectiva é causada não pelas circunstâncias, mas sim pela auto-anulação da vontade e pela absoluta falta de coragem de tomar a vida nas próprias mãos.

Sofrida, vítima de contínuos reveses, receosa da opinião das outras pessoas, Santinha quer sempre agradar aos outros. Frágil, acuada por uma mãe dominadora, passa a vida observando o tempo levar embora seus sonhos e esperanças, numa perpétua melancolia.

Os lentos anos de Santinha na companhia de Emiliana é uma história tocante sobre a insondável alma humana e as justificativas que o ser humano encontra para sabotar a própria felicidade. Impossível passar incólume por este romance de Eliziário, o mais expressivo, comovente e intenso de sua trilogia.

Jakzam Kaiser


"Silêncio no Bordel de Tia Chininha" by Eliziário Goulart Rocha
Ed. Letras Brasileiras.

Nota prévia: Respondendo mensagem de cortesia do autor, pontifiquei: "Eliziário, foi bom você ter escrito pois eu pretendia mesmo pedir à Letras Brasileiras teu contato para expressar diretamente minha imensa admiração, gratidão e... inveja (certamente, e apesar e por causa de qualquer causa e coisa, Garcia Marques diria o mesmo). De fato, a cada página sorvida, mais e mais crescia em mim a frustração de não ter sido eu a escrever Chininha [cujo, claro, protagonista é o silencioso vulcão adormecido (?) da desejável Jovita] - tal a somato/eroto/psicológica tomografia do feminino (e não menos do masculino, do sociológico), a contenção do tom, a meia luz, o fino humor, a sutil ironia, a etérea magia, a abotoada sensualidade (na iminência de, irrigada, desabrochar, aflorar, florescer e se esparramar), o profundo conhecimento de causa, enfim, dos mistérios. Fora o delicioso recurso das reiterações do estou indo para o Rio, dos adoráveis nomes da ranhentinha filharada (tenho reiteradamente alucinado com a predestinada à "perdição" Camila Luciane) e de trechos inteiros. Etc e + (muito +!). Falando outro dia dos Tempos Heróicos do Jakzam Kaiser, dizia eu ser uma obra prima quando não há o que pôr nem o que tirar. É, sem intenção de infâmia alguma, também o caso do teu Bordel - além de invejável, indiscutível Obra-Prima."
Repita comigo, Leitor, e em alto e bom tom:
"Chega!! Agora é a minha vez. Também quero (ler e) viver!"

Alexandros Evremidis = escritor crítico > RioArteCultura.Com

A vida é um cabaré

Eduardo Bueno

Então você também anda com a sensação de que está vivendo no quarto dos fundos de um bordel? Sussurros, ranger de molas, risinhos de escárnio, odores ilícitos têm assombrado seu sono e perturbado sua imaginação? Bem-vindo ao clube dos estarrecidos – e não se culpe caso julgue ter perdido o senso de indignação, se ao menos ainda conserva o do ridículo. Eis aqui uma das metáforas mais intensas do primeiro romance de Eliziário Goulart Rocha – tão boa quanto às outras: se estamos vivendo em uma casa de tolerância é apenas porque a vida é um cabaré.

Silêncio no Bordel de Tia Chininha é uma novela breve e enternecedora. Entre seus méritos está o fato de produzir a certeza de que a trama está apenas começando tão logo se esgotam suas páginas. Depois de se cerrarem as portas, as imagens se mantêm silhuetadas na mente do leitor.

Da lascívia bem-temperada de Jorge Amado à escatologia explícita de Nelson Rodrigues, passando pela sociologia quase proustiana de Gilberto Freyre, as letras brasileiras já freqüentaram muitos prostíbulos e incontáveis rameiras. Mas ao transportar a ação para o vilarejo de Outeiro das Almas, na fronteira Sul do Brasil – "terra de ninguém e terra de todos" –, Eliziário foi capaz de conceder uma nova dimensão (não apenas espacial) ao randevu: ele o transformou em casa da sogra...

Mas talvez tenha chegado a hora de quebrar o silêncio, aguçar a audição e limpar o nariz ranhento. Deve haver uma saída honrosa desse puteiro. Mas você só vai descobri-la se entrar nele.

Alexandros Papadopoulos Evremidis = > escritor crítico > Email


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