| Yuri Firmeza | Como indica o título da exposição - ESTE LADO PARA CIMA - a fragilidade é o mote conceitual que norteia os trabalhos apresentados na primeira exposição individual de Yuri Firmeza, na Galeria Casa Triângulo, em São Paulo. No entanto, a fragilidade, neste caso, distancia-se de sua definição costumeira, óbvia e enfraquecida - do frágil como sinônimo do que é pouco durável, do que não tem saúde, força e vigor. Ao contrário de tais definições patologizadas e patologizantes os trabalhos apresentados na exposição tratam a fragilidade como potência política e como condição inventiva inerente à arte, ao corpo e à vida.
Dessa forma, é imprescindível não apenas atuar nestas zonas de vulnerabilidade, riscos e contágios como também criar tais zonas a partir dos gestos produzidos e inscritos no mundo e nos corpos através de trabalhos como os apresentados nesta exposição. É o caso, por exemplo, do trabalho inédito Forte e Grande é Você (2011). Este trabalho consiste em uma pequena caixa de música que apresenta, em uma de suas faces, uma fotografia de Firmeza quando criança, vestido com uma roupa camuflada do exército e uma dentadura de vampiro em sua boca. Na lateral da pequena caixa há uma manivela que, através do manuseio do público, aciona o trecho de uma música da banda punk Cólera. O trecho repete-se em loop e o seu volume varia de acordo com a velocidade em que a manivela é girada, repetindo incessantemente - e de forma quase sussurrada - o grito: Forte e grande é você, forte e grande é você, forte e grande é você...
A delicadeza e aparente impotência da caixa de música e da foto da pequena criança tornam-se conflituosas a partir do momento que percebemos a vestimenta militar e vampiresca da criança e ouvimos, ainda que como uma canção de ninar, o punk rock esgarçado de uma da primeiras bandas punks do Brasil.
Esta aparente impotência sendo desconcertantemente elevada à enésima potência está presente também na videoinstalação, também inédita, Vida da minha Vida (2011).
Trabalho realizado a partir de imagens de arquivo pessoal e imagens que o artista vem capturando a alguns anos de uma senhora, dona Jucineide, que tem Alzheimer. A senhora, ao longo das filmagens, foi gradualmente perdendo a memória recente e atenuando as lembranças de sua infância. A vídeoinstalação é apresentada em três projeções onde, por vezes, vemos o corpo frágil da senhora de 88 anos boiar em uma das telas e se contrapor as imagens de ondas rebentando contra os paredões de pedra nas outras duas telas com o áudio atenuando esta imagem violenta. Noutros momentos, o mar revolto - que arremessa o espectador da vídeoinstalação a uma sensação de turbulência - dá lugar a três projeções subaquáticas onde a câmera tateia o corpo frágil - e marcado pelo tempo - da senhora. O espectador - imerso neste ambiente, em pé, sentado ou deitado em puffs no interior da sala - experimenta este mergulho do corpo que varia desde a agressividade das ondas turbulentas até a amenização da força do mar.
Em outra obra intitulada de A Fortaleza (2010) vemos duas fotografias feitas a partir de um mesmo ponto de vista e "quase" a mesma paisagem. Na fotografia da esquerda podemos ver, novamente, Yuri Firmeza quando criança em pose de "homem forte" enrijecendo o seu bíceps; na fotografia da direita vemos Firmeza fazendo a mesma pose no mesmo lugar, porém, 15 anos após a primeira foto dele quando criança. A paisagem ao fundo, da cidade de Fortaleza, é completamente distinta da primeira foto ainda que tenha sido registrada da mesma localização (janela de uma varanda). No entanto, percebemos claramente, na paisagem de fundo da fotografia, a verticalização irrefreável que a cidade vem passando nos últimos anos, efeitos de uma especulação imobiliária desenfreada que tem assolado a população daquela cidade chamada Fortaleza. O título do trabalho remete de maneira irônica e dúbia tanto à cidade quando ao artista muito magro fazendo pose de forte super-herói.
Os demais trabalhos, já conhecidos pelo público de São Paulo, apresentam o corpo em condição pouco habitual. É o caso, por exemplo, de Ação 01, onde o artista se insere, como em um ninho, nas fendas de uma árvore oca e o Ação 03 onde o artista cria um duplo vazado de seu corpo em uma forte parede de alvenaria e, após criada esta escultura vazada, o artista preenche a parede ostensiva com o seu corpo desnudo e muito magro. Novamente o corpo sendo acolhido por uma estrutura física que lhe protege ao mesmo tempo em que lhe enclausura em ruínas.
ESTE LADO PARA CIMA apresenta a vida vivida no limite, o limite como sua própria potência.Rio de Janeiro 2011
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