| Esculturas de Wellington Fernandes e Desenhos de Lan |
Elegia à heresia: Transposição - tradução - hermenêutica?

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Ao longo da carreira que, por instabilidade de caráter e compulsivo pendor para insólitas aventuras, acabei não fazendo, já entrevistei centenas de artistas de todos os gêneros - o suficiente para entender que entrevista marcada é jogo de cartas marcadas. Agora abordo a "vítima" e de súbito faço uma ou duas perguntas impertinentes, que podem ou não gerar sucessoras.

- Lanfranco, essas mulheres todas que você desenhou, as conheceu em profundidade, quero dizer, posaram para você?

- Modestamente - disse ele em calmo enigma e mais não disse: discreto e elegante, saiu pela tangente.

Ao final da peregrinação pela exposição das obras de Wellington e Lan, com Jaguar ao lado suspirando/gemendo "Muito bom!" e estando eu entre a bola do Zico, a que dei um peteleco e ela vibrou como se gol fizesse, e o casal de malandros namoradores, que irresistivelmente invejei, me vi na insólita e incômoda situação de uma balança: num dos pratos, os desenhos do Lan; no outro, as esculturas do Wellington. Mas que coisa muito estranha! Embora eu comparasse metais pesados com papéis, a balança não favoreceu nem pendeu para o esperado lado. Ficou em perfeito, simétrico e harmonioso equilíbrio. Em silente repouso. Vai ver que assim sucede porque o quantum de arte, com todos os inconfundíveis atributos, que há num, há também no outro, pensei. E também embora o bronze do Wellingtton seja frio, as cores do Lan são quentes (algumas, quentíssimas, chama pura, e a tal ponto que até agora me sinto incendiado. Isso, sem falar na linha, quero dizer, na curva do seu impecável desenho).

Quero com isso dizer do risco, calculado e assumido por Wellington, da temerária transposição de um meio para outro. A história da arte ensina que a ousadia, para não dizer heresia, rarissimamente vai além, só muito eventualmente chega a igualar e pluralmente fica aquem. Acho que no caso, e diante da feliz resultante, deve ter havido uma tremenda de uma conspiração e cumplicidade, um complô!, entre Wellington e Lan.

No panegírico do catálogo, Ricardo Cravo Alvim se desculpa pela pecadora e reiterada reincidência de etiquetar Lan com o "mais carioca dos cariocas". Embora em outra, faço igual e dou a mão à palmatória por só agora ter percebido que a carioquice dele, com pão açucarado e tudo, não se esgora na sensual ginga e generosidade das suas mulatas, nem no encanto de seus poetas maiores, mas também (lá esteve esses anos todos!!) no grafismo da assinatura dele. É ver para crer. Para isso tem que olhar com toda a devida atenção (e imaginação) que nos leva à incondicional e apoteótica admiração.

Pois então que, quando for a hora, santificado seja o nome dele, ladeado por Caribé e Di, todos de olho no Wellington Fernandes que insuflando a terceira e decisória dimensão aos desenhos do Lan, vida à vida lá existente acrescentou. E, claro, beleza, muita beleza.

Rio de Janeiro - Fevereiro - 2006

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > Email


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