TINA MODOTTI
Passionária Mexicana

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

"Não foi líder, mas viveu com uma orientação e um propósito; não foi uma mulher que mudou a história, mas estava sempre dentro do cenário. Seja no prazer ou na angústia, parecia ter um instinto secreto que a colocava no centro das atenções." Esse trecho, extraído do livro "Tina Modotti: Una Vida Frágil", de Mildred Constantine, já seria suficiente pra traçar um perfil. Mas há mais, muito mais. Há milhares de anos, as mulheres foram mantidas pelos homens na sombra da logística, coadjuvantes do brilho masculino. Vez por outra, entretanto, uma chispa se iluminava e uma mulher rompia os grilhões, tomava as rédeas de seu destino nas mãos e, livre, se equiparava aos homens. Tina era uma delas.

Nascida no fim do século 19, na Itália, a vemos, em 1913 nos Estados Unidos, casada com um norte-americano e trabalhando como atriz em Hollywood. Depois foi aluna, modelo e companheira do fotógrafo Edward Weston, com quem viveu no México de 1923 a 1926. Expulsa de lá em 1930, esteve na União Soviética e na Espanha, onde participou da Guerra Civil de 1936 a 1939, ano que retornou ao México, vindo a morrer em 1942, em circunstâncias duvidosas.

Os anos vividos no México, sua pátria de eleição, foram dedicados à revolução e á fotografia, duas paixões que Tina levou às últimas conseqüências. Paralelamente às atividades partidarias, documentou com a sua arte, de textura e luminosidade ímpares, as revoltas, o cotidiano sofrimento e as agruras dos camponeses, que, no entanto, não se dobravam ao destino que lhes era imposto. Alegres e otimistas, as companheiras-mulheres ensinaram-lhe mais do que ela com elas aprendeu. Quem nos conta é Elena Poniatowska, em sua novela "Tiníssima", traduzida por Wladir Dupont. Primitivas e inocentes como eram, achavam graça em seu caixãozinho preto - máquina fotográfica - que, dizia-se, via, por debaixo da roupa, a flor negra de suas entrecoxas - a única coisa que lhes garantia a subsistência, já que os homens com ela gostavam de brincar. Em outras ocasiões, quando ferida e deprimida, "aqui curamos você mesmo contra a sua vontade", para alegrá-la, mandavam que dispensasse o sutiã e a calcinha para arejar os dois bonitos corações e a tal flor que possuía. Ou, "se seu leite está cortado, não chora: faça coalhada", diziam e tirando-lhe a roupa, enfiavam-lhe a mão, lhe faziam cosquinhas, varriam a lama com sua saia, varriam os pesares de Tina.

Tina Modotti, desprezando as preocupações pessoais, dedicou sua vida à causa humanista e escreveu sua história na história dos homens com toda paixão e o próprio sangue. Se a força dos pobres - como dizia Giuseppe -, subjugaria o mundo, Tina era migalha de pão, uma coisa que se joga fora se quisermos, mas que faz falta. Tanto quanto ela própria.

Rio de Janeiro 2002

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