| Sylvia Martins |

Criador e criação > as belas artes > Procedures for progress

© Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Real time: Stimulus já se diz estimulante. Não pra menos. Diante das belas telas de Sylvia, o que me ocorre e estimula é a sua cosmogonia: O universo é densa escuridão, desértico e inóspito caos, revolto e envolto em uivantes e aterrorizantes brumas. Seduzido, porém, ele por Eros, igualmente primordial, que lhe engendra um súbito desejo, subitamente e aos poucos, como num fade in cinematográfico, o escuro é rasgado pela luz e a luz se faz cor. Cores.

Nascem, então, e brotam e surgem de seu cósmico útero grupamentos cromáticos, acolhedores oásis, que, no limiar da figura/desfiguração vão tomando variadas formas que pulsam e respiram e se expandem e florescem. Percebemos, clara e distinta e nitidamente, multicores colares, cocares, penas, pulseiras, tornozeleiras, camonianas amorosas grinaldas para nas cabeças pôr de rosas. E tudo é celebração e tudo é narcótico e inebriante aroma e tudo é magia e tudo tem almiscarado cheiro da mais pura sensua/sexua/lidade, enfatizada por uma textura táctil, plasmável matéria plástica.

Homenagem a índios e indianos?! Sabidamente, aqueles, ancestrais da body art, faziam de penas e folhas e sementes e flores sua elementar indumentária, assim como estes, pode se pontificar, não passam sem odoríferas pétalas e, mais, "vestem" flores - reais e pintadas, tecidas, bordadas, estampadas. Pode-se também afirmar que destarte Sylvia nutre a pintura daquilo que a pintura encarecidamente pede para fazer jus ao nome - cor! Cores! Sendo tudo o mais acessório e incidental.

Sim, vou mais longe e reitero o que ainda há pouco, em outro texto e contexto, escrevi: Para se perceber e/ou construir a beleza, absolutamente necessário se faz que se tenha muita imaginação, sensibilidade refinada e apurada. Atributos estes inscritos no dna da artista e transcritos em suas pinturas, constituindo sua verdadeira assinatura. Fecho exclamando que, mais do que a beleza, Sylvia capturou o espírito da Beleza! Nada mais amável, puro e feminino. Não! Não há isso de arte feminina, há sim feminino na arte e isso é o mesmo que o espiritual na arte. Ela é uma dessas míticas criaturas que, repetir-me-ei, veio ao mundo para acrescentar beleza à beleza existente.

Agora sim fecho dizendo que logo logo pássaros canoros, sedutoramente enganados, sobre essas telas tentarão construir ninhos. E abelhas, borboletas, beija-flores sugar o néctar da intimidade de seu gineceu.

Flashback: Sim, faz anos e foi no primeiro contato com as criações de Sylvia. Lembro vividamente do perturbador efeito causado e de como me senti tangido. De fato, havia um grande tumulto nas telas de então, todas cobertas de ponta a ponta, tipo, all over, com cores domadas e domesticadas, contidas sob rigoroso controle em cerradas gaiolas. Não havia nelas áreas de escape e a respiração só se tornava possível nos interstícios da... batalha. Sim, lembro que associei as longilíneas passadas de tinta - pinceladas, pingadas ou escorridas -, a espadas de são jorge e jocosamente chamei a "narrativa" de xifomáquia. A assaltante sensação que de mim se apoderou foi a de que a artista travara ferrenha luta - duelo singular: interior, contra si mesma, e pra fora, não contra o mundo, mas contra a árida superfície a ser maculada e fecundada. Quero com isso significar que de par com a áspera vitalidade que animava seu gestual, transparecia um coeficiente de auto-hostilidade, beirando eventualmente a desesperança. Concluí então que, embora serena e calma, como um calmo mar, no momento da fatura daquelas pinturas, seu psiquismo estivera possuído por signos de desmedida paixão e violenta turbulência. Era patente a rebeldia, a insubmissão. O inconformismo! Quanta diferença com a cria atual totalmente heliotrópica!

Sylvia, como poucos, transmutou a sua vida em sublime arte. E com essa arte, escrevi-lhe certa vez, você pode, flutuando no nada, ir até o fim dos mundos.

Rio de Janeiro 2008

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > Email


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