| Sumitra Dhyan |

Sumitra Dhyan abre pela primeira vez seu atelier para a exposição Permanência, exibindo 45 esculturas, que, de acordo com a artista, “trazem conceitos e materiais que tem longa durabilidade, que não se desfazem facilmente com o tempo”.
As obras dessa mostra foram produzidas em materiais como bronze, ossos, resina e flores artificiais, com referências filosóficas, mitológicas e naturais. “A inspiração veio de muitas viagens ao redor do mundo e de uma vontade de materializar emoções vividas”, explica Sumitra.
A presença animal é bastante expressiva nos tridimensionais da artista, sempre carregando um simbolismo de cultura e tradição. A gazela, por exemplo, “na tradição hindu, está associada ao Vayu, regente do elemento ar, o vento. É símbolo também da religião budista, pois representa o primeiro sermão de Buda para seus discípulos, ocorrido no jardim das gazelas”, explica Sumitra. A vaca, por sua vez, “representa abundância na Suméria e é símbolo de fecundidade para os Germanos. Tem ainda papel cósmico e divino na Índia, sendo, por isso, venerada”, detalha.
Filosofia, psicologia e história também tem lugar nas intenções da escultora. Num trabalho intitulado “Freud”, Sumitra Dhyan analisa a oscilação da imagem do órgão masculino da História Antiga à Idade Contemporânea, ora tido como sagrado, ora como profano: “Egípcios, gregos e romanos usavam sua imagem para representar as forças criadoras do universo. Entre os séculos V e XV d.C., com o crescimento da influência cristã, o falo passou a representar tudo que era maléfico, vergonhoso e destruidor. No renascimento, virou objeto da arte e da ciência. Freud, no entanto, foi o primeiro a preocupar-se com a alma do pênis, para ele o órgão era fundamental na formação do caráter de todas as pessoas”, diz.
Nas obras de Permanência predominam cores de “elementos da terra”, como classifica a escultora: ouro, prata, bronze e cobre. Foge a esse padrão uma única cor, selecionada a dedo por Sumitra: o laranja fluorescente, que, para ela, representa a modernidade. Suas criações são ainda adornadas por objetos variados, como coroas e spikes.
O ponto de partida para a mostra foi um objeto um tanto inusitado: uma carcaça bovina. Essa ossada com a qual a artista se deparou – restos do que um dia foi um animal vivo – também dialoga com o título da exposição, já que, embora sejamos seres efêmeros, nossa essência e nossos ossos ultrapassam nossa estada nesse mundo.
Permanência é um mergulho no curioso e voraz processo criativo da artista. “Crio o dia todo na mente. Um amigo certa vez me disse que tenho mãos grávidas. E ele estava certo”, reflete. A exposição possibilita ao público um contato bastante próximo e íntimo com os trabalhos de Sumitra Dhyan.
Amante das artes, formou-se em Comunicação Visual no Mackenzie em1989 e é especialista em escultura. Enriqueceu seus conhecimentos sob a orientação de Israel Kislansky e Mauricio Perini. Fez exposições na África e seus trabalhos fazem parte de acervos particulares de diversas coleções na Europa e América do Norte, bem como no Brasil. Da arte, Sumitra só quer a beleza e inspiração com a qual pode brindar a todos de forma criativa e generosa.

Rio de Janeiro 2012


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©Alexandros Papadopoulos Evremidis = escritor crítico > Email
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