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Enciclopédica homenagem ao quadrado

"Há alguns princípios limitadores iniciais nestas pinturas de Stella Dapoian, e dos quais a artista não se desvia: a restrição ao quadrado como forma básica constitutiva é um deles; outro, o recurso à idéia de variação como compensação necessária ao anterior; a seriação surge como conseqüência quase inevitável do processo; como complemento a este último, a possibilidade de múltiplas combinações de cada uma das pinturas com outras em unidades novas e distintas; ainda, a insistência na redução cromática a uma única dominante em cada caso. A repetição é, aqui, uma solução apenas aparente para enfrentar todos esses limites que a artista se impôs: uma vez dados os parâmetros em que sua atuação pode ocorrer, o que interessa é jogar com o máximo de pequenos acidentes que aconteçam no interior do processo, criando séries em que a identidade inicial se dissolve em modulações que terminam por negar a própria repetição que deu origem aos trabalhos.

Uma parte considerável deles, aliás, começa por ser uma colagem de pequenos quadrados previamente pintados sem ter necessariamente em vista sua organização final. Esta, por sua vez, decorre não somente da articulação posterior dos elementos recortados sobre o suporte, mas também de um trabalho adicional que altera aquela primeira configuração: montagem seguida de uma quase negação do resultado inicial. Os recursos são especificamente pictóricos, restritos à manipulação química dos pigmentos e dos veículos (entre os quais a cera tem um papel preponderante). Alterações ulteriores podem acontecer, de modo que ao final a pintura se torne uma superfície exacerbada e ativa, capaz de obscurecer a própria repetição que lhe deu origem: os quadrados originais –impessoais, objetivos em sua simplicidade – terminam por se oferecer ao olhar em algumas poucas séries, sutis mas coerentes em seu ocultamento dos limites impostos. Os quadrados se tornam tabuleiros, mosaicos ou fachadas que permitem, e apenas permitem, perceber o processo repetitivo, quase mecânico, que lhes deu origem.

Trata-se, neste caso, de um conceito relativamente simples, mas fundamental da pintura, aliás consistente com o trabalho que Stella desenvolveu há algum tempo – o de pintura como superfície epidérmica a ser potencializada pelo trabalho da artista. Uma atividade suficiente em si mesma e para si mesma, e antes de mais nada essencial na constituição de nossas relações com o mundo. Em ambas as séries de trabalhos, nos anteriores tanto quanto nos atuais, há a certeza de que a pintura existe tão somente para exercitar a lucidez do olhar, e que a lucidez do olhar é uma das nossas condições para nos orientarmos diante do real." - Reynaldo Roels Jr

Rio de Janeiro 2004


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©Alexandros Papadopoulos Evremidis = escritor crítico > Email
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