"Fotografias", de Silvio Zamboni
Fotografia pictórica - um assombro!

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Para quem escreve sobre arte, há momentos em que, sob pena de macular a obra ou sobre ela deixar cair um miasma, o melhor que se tem a fazer é ficar calado, em hierático silêncio. Mesmo porque, dizer o quê, se, eloqüente, já tudo o objeto em questão diz? É o caso das "pinturas" desse rapaz, na verdade, fotografias interferidas - prova cabal de que não importa que meios e que materiais se use, nem as técnicas de que se lance mão. O que importa é o impacto estético e emocional, o encantamento de que somos tomados e que nos subjuga e arrasta para o campo dos sonhos sonhados enquanto acordados.

Moral: ficamos prostrados diante da sempre repetida e nunca suficiente constatação de que não há limites para a criatividade, a engenhosidade e a inventividade humanas. Nem há, nem pode e deve haver, e em hipótese alguma, hierarquizações e preferências, superioridades e discriminações do fazer artesanal e do criar tecnológico. São ambos, todos, ferramentas à disposição dos espíritos sensíveis e perquiridores e como tais devem ser entendidos e manipulados - linguagens em si e per se, com todos os merecidos direitos para um lugar ao sol, que é cor, e no panteão das artes.

Posto o exposto, o que foi que eu fiz? Me apresentei ao artista e disse: Já sei, você amarrou pincéis de cabo curto, empapados em tintas, na objetiva da câmara, se aproximou das telas, encostou-a nelas e a pretexto da pesquisa do foco, do enquadramento, do corte e do destaque, do resgate daquele incisivo e decisivo detalhe, foi tingindo e colorindo-as, sem querer querendo. E aí, em dado instante, presa da magia da criação pictórica, suspendeu a respiração e o tempo, e click! operou o milagre. Só não entendi, entendendo, por que se diz fotógrafo, se é completamente pintor, comentei en passant. Zamboni, um menino apanhado em flagrante delito - fazendo arte -, riu feliz com o jogo de palavras e se declarou eternamente pintor.

Uma jeunne femme que, ao lado, acompanhava com vivacidade o entrevero e que se identificou como a mulher dele, fez a pergunta que não queria calar: Você vai escrever alguma coisa a respeito? Fiquei sem graça e desconversei com talvez sim talvez não, muito antes pelo contrário. Mas não abri mão do direito que ela, e todos, tem a uma resposta. Aqui está, dada com a necessária parcimônia que, como de início deixei claro, a arte perfeita pede. O restante quem diz são as obras falantes e cantantes de odes e o rico histórico desse pintor/fotógrafo, sendo a recíproca absolutamente verdadeira, que nos deixou de boca aberta de espanto e áfonos de encantamento.

Rio de Janeiro 2004.

Alexandros Papadopoulos Evremidis = > escritor crítico > Email


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