Esculturas by Sara Nach
A beleza superlativa que cativa. ©Alexandros Papadopoulos Evremidis*
Empatia, simpatia, emoção, paixão? São palavras que com facilidade nascem na mente de quem observa as esculturas de Sara Nach. Comigo foi um pouco além, e a tal ponto que, encantado, subitamente exclamei: Que beleza, que dinâmica, que movimento! E que volume, que plástica, que sensualidade, que expressão! E essas sedutoras saliências e essas acolhedoras reentrâncias, as dramáticas torções!
Dadas as coordenadas e localizado o epicentro, podemos rodear as obras, rodopiar, dançar, apalpar, acariciar e no instante oportuno penetrar seu íntimo e proceder à impossível, por pertencer aos domínios do mistério, devassa da criação, que é o que Sara Nach narra. Mas antes: Onde se originava aquela força motriz que conferia tamanha dinâmica e ondulante movimento no espaço? Não hesitei em responder que era extensão de um movimento interior que nascia nas entranhas de Sara, crescia, se avolumava e por fim assim se expressava.
Quem vive a arte em tempo integral, e mesmo quem não, sabe que obras há que nos fazem franzir o cenho e apertar a vista para apreender o não patente; outras, nos levam à reflexão, à meditação, à mais pura contemplação; outras ainda, fantasmagóricas, nos arregalam os olhos; as que atraem e repelem; fazem nossos olhos marear e, por que não admitir, desandar em lágrimas; e, claro, as que nos subjugam e obrigam a esboçar um sorriso que, sob a contração das inflamadas maçãs, logo se transforma em sol ridente.
Sara Nach, que carrega um generoso quantum disso tudo, parece ter se tornado instrumento das poderosas forças primordiais, Chaos e Eros, Beleza e Emoção. A beleza, delicada e etérea, nos envolve e mantém suspensos no espaço. A emoção vem como uma enxurrada e nos arrasta, se supera e causa (causou!) comoção geral!
Visualizo Sara subtraindo ao informe deus porções de matéria, acariciando, configurando com atributos mínimos e animando-as, transfigurando-as em arquétipos, avatares de tudo que depois viria. É esse rito que agora nos contagia orficamente e faz seguir as pegadas da artista, antes mesmo de ela começar a andar. É irrefreável o compulsivo impulso que sentimos diante das suas belas criações: pegá-las e com respiração sincopada percorrer-lhes os aparentes e os recônditos contornos, acompanhar-lhes os sugestivos gestos no espaço, apertá-las ao peito e aninhá-las no colo, sobre elas nos fechar. Tudo para nos tornarmos cúmplices do sublime.
Domando e mantendo nos limites do necessário a rigidez (para uns, aridez) geométrica da masculina linha reta, Sara fundamentou o léxico formal das obras na estética da curvatura (não se curva o universo sobre si?) cálida e úmida dos arcos, das parábolas, das hipérboles. Observando-lhes as sinuosas e exultantes posturas, sente-se logo por que transcendem o real e se inscrevem no Cosmo como entidades em fluxo e a um tempo em suspensão. São partículas e também são ondas.
Deixemos Sara no espaço onde construiu sua morada, privilegiado posto avançado de observação das humanas destinações, e falemos do táctil. Suas esculturas em bronze, com estratégicas patinações aqui e ali dialogando com os eventos pictóricos, são de pequenos e médios formatos que se agigantam ao toque do olhar. Dotadas de brilho, reluzem como se de ouro. Patinadas, remetem à afetiva arqueologia da fértil fecundidade. Salta aos olhos que a população é preferencialmente do universo feminino. Pertence a ela, mas também a todos nós. São mães, irmãs, amigas, personagens míticas. São reais e são protéicos protótipos. São bailarinas que exploram as coordenadas do plano. São grávidas (continentes) opulentas, com a personalizada cornucópia recheada do bem supremo, que se ostentam, se espalham, geram espaços e dão seqüência ao elo. São mediadoras da criação primeira e da artística. A mãe é fera que demarca o território da defesa, guardiã que é da vida. Há prosopopéias de emoções e sentimentos cotidianamente humanos - culminante é a comovente mulher atirada "A teus pés". Os fenômenos naturais também são candidamente representados.
Os homens, embora não centrais, já que a dorsal de Sara é a matriz da Gênese, não estão ausentes e dançam com seus opostos complementares o pas-de-deux: enlaçados, entrelaçados, enamorados ou pairando sobre o grupo família dizem do que nos une - o encontro. O pai, capítulo à parte, está parafraseado no suspiro "Oi Guevalt", algo como "Ai que violência, que sofrimento!". Uma figura ajoelhada, peito aberto às investidas, braços e olhar para os céus. Não há cenografia nisso, nem excesso de poesia. Se sofrer é melhor que o nada, compaixão é sofrer junto.
Proceda-se a uma dramática redução escalar das obras de Sara Nach e alguns felizes terão jóias perenes com que ornamentar as perecíveis carnes. Ampliando-as em dimensões heróicas e incrustando-as no firmamento seremos todos democraticamente contemplados pela Beleza - ela piscando de lá e nós co-respondendo de cá.
Depois perguntam: Para que serve a arte? Sei eu lá! Vai ver que é para ser servida - no café, no almoço, no jantar, nas 24 frações de vida que de cada vez nos é concedida.
Rio de Janeiro 2005
©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > E-mail
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