"BALADA AZUL - Pinturas", de Ronaldo de Oliveira
Música visual.

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

"Nada pode ser criado sem a solidão. Criei ao meu redor uma solidão que ninguém calcula."
Pablo Picasso.

Essas terríveis palavras do finado, que Ronaldo de Oliveira faz dele, sinalizam o estado do psiquismo e seu processo demiúrgico. Já o título da mostra, "Balada Azul", mais que indício, é revelação do escopo íntimo e inconsciente. Liberto da obrigatoriedade da representação do mundo objetivo, ele recorre ao binômio elementar "forma e cor" e, em sua ânsia de se expressar por intermédio de seus impactos, nos comunica as tais forças subjacentes ao cosmos, sejam naturais, físicas, ou emocionais e espirituais. Resultado - música visual, coerente e corajosamente assumida, vistas as designações individuais dos trabalhos, próprias da terminologia do medium.
No dizer de Maurice Denis, "toda pintura, antes de ser um cavalo, um nu ou uma história, é essencialmente uma superfície plana coberta de cores dispostas numa determinada ordem." Na música sucede o mesmo - a notação dos tons nesta ou naquela posição do pentagrama resultam em sedutoras melodias. Fiel a essa autêntica máxima, e seria frustante contra-senso se assim não fosse, Ronaldo elegeu o azul - do mais profundo ao mais deslavado - e o amarelo e, arranjando-os segundo seus incontroláveis ímpetos, criou um verdadeiro pas-de-deux, lírico e onírico. E se o azul é triste e o amarelo, alegre, está aí o achado, Ronaldo casou a melancolia com a celebração e as fez como amantes, opostos complementares de um yin e yang cósmico, e daí fatalmente inseparáveis, dançarem a valsa danúbia da noite de suas núpcias.
No entanto, se a expressão dos sentimentos é livre e descomprometida, o balé da dupla cromática, e seus ocasionais coadjuvantes, em suas inúmeras e imaginativas variações (do tema), como é praxe nos espetáculos de palco, também aqui obedece a uma relativa mas determinada marcação dos passos. E quem o socorre nessa tarefa disciplinar é a geometria que, com seu distanciamento científico e sua precisão, suas linhas retas, curvas ou serrilhadas e seus hachurados, que ora choram, ora sangram, qual tecido e teia, envolve, demarca e delimita terreiros e territórios de ação e conseqüente emoção. Uma festa para os olhos, ressonâncias apaziguadoras na mente. Poesia pura.

Rio de Janeiro 2002

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > Email


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