Roberto Cabot
Roberto Cabot (que define as pinturas como "equações") mostra um trabalho realizado com óleo sobre tela com ares cibernéticos que abusa das sombras e perspectivas. "A pintura atual de Cabot determina pontos de interseção entre o universo da máquina, com seus dispositivos controláveis, e o mundo emocional, com toda a desordem de suas pulsões, criando um espaço transversal, que participa, ambiguamente, da matemática e do caos", escreve a crítica Ligia Canongia no catálogo do artista.
Cabot, que trabalhou vários anos com arte e tecnologia - como na obra "Mediamorphose" que expôs na Bienal Internacional de São Paulo em 2002 - teve sua instalação-vídeo como um dos grandes destaques da exposição "Carnaval", em janeiro deste ano no CCBB. Depois de 15 anos de uma carreira bem sucedida na Europa, o artista reafirma o seu retorno ao contexto brasileiro (vindo de Colônia, na Alemanha, onde vive atualmente) - para sua primeira mostra individual no Rio.
Das seis pinturas que estarão na Lurixs, quatro parecem recortes na continuidade de uma gigantesca rede, uma infinita matriz, que se estenderia além dos limites do quadro. Uma das pinturas irá estender-se de fato além dos limites do quadro, invadindo o espaço físico da galeria e suas paredes.
Para Ligia, "o objeto da pintura de Roberto Cabot é o próprio fenômeno da visão", sendo que, "o artista não cria na pintura a ilusão da realidade, mas, ao contrário, dá realidade pictórica e, portanto, física a um espaço fantasmático e fluido, que se esquiva na malha temporal de um movimento contínuo".
Nas outras duas pinturas, o artista faz uma releitura dos metaesquemas de Hélio Oiticica - que ele chama de Helioremix . "Pontos de vibração de cor e de luz, os jogos de planos dos Metaesquemas são convertidos, em Cabot, nas puras linhas que os separam, como se Cabot tivesse revigorado os espaços entre, o vazio, os intervalos, e os alçado à condição de plenitude. São essas linhas que vão desempenhar os momentos luminosos e assumir a cor, como se o "fundo" de Oiticica se transformasse em elemento vivo, ato e estrutura da pintura", explica Ligia.
Como um segundo elemento da exposição, Cabot vai mostrar fotografias feitas a partir de sua "máquina de reflexão", aparelho construído pelo artista com estrutura de madeira e espelhos, trabalho desenvolvido paralelamente às pinturas.
Estas pinturas de Roberto Cabot enfocam o singular, o acidente, como elemento tranformador e portanto criador, e situam-se entre a concentração no detalhe e a imprevisibilidade do movimento, a organicidade da mão humana e o rigor do mundo tecnológico digital. O trabalho cria um espaço particular que parece ocupar os interstícios supostamente vazios de sentido, o espaço entre as coisas. "Entendidos pelo o artista como 'um multiplicador de luz e um desdobrador de visão', tanto o aparelho quanto as pinturas desenvolvem o campo ótico da imagem para além de seus limites, pressupondo desvios e movimentos que desmontam a ordem e a determinação da máquina, indicando contratempos que nos reportam aos percalços surpreendentes da própria vida", finaliza a crítica.
Roberto Cabot nasceu no Rio de Janeiro em 1963. Depois de residir em vários anos em diversos países europeus, atualmente divide sua vida entre Colônia, na Alemanha e o Rio de Janeiro. Estudou Pintura e Arquitetura na Escola Superior de Belas Artes de Paris, já realizou 20 exposições individuais em países como Alemanha, Espanha, França, Bélgica, entre outros. Participou de mais de 40 mostras coletivas, entre elas a Bienal Internacional de São Paulo de 2002. Foi premiado recentemente pela prestigiosa Fundação KunstFonds, na Alemanha. A obra de Roberto Cabot encontra-se representada em numerosas coleções particulares e institucionais em variados países europeus, além do Brasil, do Japão e dos EUA.
Rio de Janeiro 2004
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