| pier stockholm - santa cruz |

Santa Cruz se constrói visualmente a partir de elementos vários, muitos oriundos do universo do skateboard. O nome desta individual não apenas se dirige ao símbolo maior do catolicismo, mas também se refere a uma das principais marcas de skate adorada na década de 80-90 por adolescentes skatistas do mundo inteiro. Contudo, o tema tratado não é exatamente o skate mas o modo como essa cultura urbana transmite e modela atitudes e estéticas, aqui transformadas em metáforas da própria vida. As obras de Santa Cruz comentam neuroses com relação ao sexo, violência, solidão e falam da contínua tentativa-e-erro de ser autêntico num sistema que cultua o materialismo e a frivolidade.

Santa Cruz apresenta desenhos, objetos, pintura e fotografias. Os animais, em nanquim, formam a série Family – Los animales que no me dejan dormir e se referem aos tempos colegiais do artista, quando ele já fazia tais desenhos. Refeitos na idade adulta, esses desenhos representam membros de uma hipotética família, adornados por elementos fálicos e rebuscados, que ilustram certa vingança contra fantasias ruins e medos que cercam as relações familiares. Na pintura, um tigre destacado se impõe poderosamente sobre uma árvore genealógica de cães domésticos, simbolizando toda uma família que carrega pesadas cruzes de culpas e afetos tortos. A figura felina, bastante presente no geral, também tem relação com desenhos populares que enfeitam boléias de caminhões no Peru.

Um objeto curioso chama a atenção na exposição: uma barra de aço inox com uma pequena mochila negra pendurada, cuja estampa de uma cruz hospitalar branca, nos faz lembrar um kit de primeiros socorros. A mochila é emblema de um salva-vidas para nossa juventude andarilha que vive uma intensa mobilidade de tempo e espaço (reais ou virtuais). Assim como o skate, a mochila também tem a ver com deslocamento e cidades, e com a própria situação em trânsito constante de um estrangeiro. A barra de aço inox, pode ser o contraponto fixo e sólido, ainda que temporário, de uma situação de deslocamentos. Para o artista, esse reluzente material também é entendido como um símbolo das grandes cidades, da tecnologia na arquitetura, da globalização.

O skate se apresenta mais literal como referência em duas pranchas forradas com lixa e costuras, que também exibem cruzes com colorido de hospital. Estas peças, tratam basicamente de causar um estranhamento sobre o que seria um objeto ordinário – prática comum nos trabalhos de Stockholm.

As fotografias, contrapõem imagens atuais e antigas, suspendendo e congelando movimentos. No geral das obras, homens e bichos, fantasia e realidade se confundem, e nesta fusão do humano com o animal selvagem está, para Stockholm, a possibilidade da construção de uma pessoa mais forte, decidida e livre de neuroses e culpas.
(texto de autoria de Daniela Labra, impresso no folder da mostra)


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©Alexandros Papadopoulos Evremidis = escritor crítico > Email
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