"LANDSCAPES", de Petrillo
O drama da paixão na criação de um novo mundo!

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Para que serve a arte? - pergunta volta e meia um gaiato. Deixando de canto as tantas respostas quantas no mundo pessoas há, digamos que a de Petrillo, com insofismável certeza, serve para nos arrancar do marasmo e do desânimo, da apatia e do conformismo, do niilismo e da desesperança, nos sacudir vigorosamente, mobilizar nossas vidas, nos comover e emocionar, fazer sonhar e tornar (+) felizes. Existe um mundo, diz ele, e nele podemos nos sentir íntegros e inteiros.

Petrillo, Petrillo, ..., repito para gravar e nunca mais esquecer, é esse o nome do jovem alquimista que disso fez e faz sua singular pedra angular, ainda que ao custo da própria passional entrega e do conseqüente sofrimento. Não teria ele saído recentemente de um cti qualquer?! Não importa, ali ele estava agora, todo radiante, todo doador. Estou me referindo ao vernissage dele, nos Correios, que, escapando da tediosa tradição, que reduz essa sorte de eventos em comilanças, bebilanças e bosteirol, transformou suas landscapes em epicentro de encantadora e vívida efervescência. Por toda parte, grupos de pessoas observavam de variadas distâncias focais as pinturas e discutiam acaloradas e gesticulavam agitadas. Tanto ansiavam por seus generosos e oníricos espaços e tanto os disputavam, que, por instantes, parecia que os adoradores iam brigar pela eleição desta, dessa ou daquela obra-prima, que quase todas eram - são!

Mas afinal, como são e o que (se é que) representam as telas de Petrillo? Não representam! Ou seja, são construções arquiteturais abstratas, algo assim como se ele tivesse retirado do mundo todos os atributos elementares que o tornavam reconhecível e familiar e, dando a volta por cima, possuído pelo libidinoso impetus criativo, tornasse a reinventá-lo e a lhe conferir sedutora presença física, despertando em nós o desejo de sua ocupação e posse.

Para chegar a isso, subtraiu o artista poções e porções matéricas do caótico nada e com gesto livre, com delicadeza e leveza e com a elegância de um monge budista em zen absoluto, maculou o vazio desafiador da superfície da tela, traçando nela acariciantes e amorosas linhas, humanamente instáveis, ora carregando mais na têmpera e ora deixando-a fluir solta, translúcida, quase transparente, a se perder na geografia. Mas não são linhas riscadas com o auxílio de régua e nem são simétricas ou paralelas - de tanto em tanto, ritmica e melodicamente, elas convergem, divergem, se agrupam e se dissociam, e à medida que delineiam e delimitam territórios, planos e altiplanos de configuração absolutamente dramática, sangram e choram e invadem e caracterizam e personalizam esses espaços intersticiais. A resultante das manchas e de suas sutis tonalidades, evoca em nós paisagens, escarpas, precipícios, falésias, canyons, serras, lagos e mares interiores, aglomerados humanos e florestas. Um desejo enorme de entrar nessas telas e se aventurar pela amplidão, pelos Elíseos.

Aparentemente, as pinturas de Petrillo são povoadas por múltiplos planos e camadas, secções geológicas. Na verdade, desfazendo a ilusão ocasionada pela disposição das linhas, eles se resumem a apenas dois - um, térreo, que, acidentado, se estende e se amplia em direção ao infinito, a perder de vista; e outro, celeste, que se inclina convenientemente e se debruça, num horizonte possível, sobre o primeiro, para o tão esperado encontro amoroso de Uranos e Gaia.

Há ainda um outro aspecto a considerar nessas landscapes, que é o da coloração, proprietária e significativa: parte delas é superlativamente dominada por intensos vermelhos e avermelhados, apenas interrompidos e alternados por pretos, como a indicar a paixão tropical, às raias do delírio e da saturação, os afogueados amanheceres e entardeceres, o mundo tingido de sangue e carbonizado, o inferno; já a outra parte, também semeada por linhas negras, aqui na terra como no céu, sinalizadoras de topografia, tanto natural como habitada, é preponderadamente de matiz nórdico - branco-gelo, cinza-metálico, áreas inteiras cobertas de gelo, de água, de neve, de frio, mas também de paz, de contemplação, de placidez, de silêncio - foram estas últimas que mais seduziram os súditos.

Perguntei a Petrillo se aquelas paisagens eram inteiramente imaginárias ou se ele possuía referências físicas para elas. Ele prontamente confirmou a segunda hipótese, mas, quando indaguei quais eram, fazendo uso do direito e da reserva de domínio, ele se recusou a revelá-las. Todo artista, todo ser humano e animal, vegetal e até mineral, tem os seus segredos... Cabe a nós desvendá-los, quis ele insinuar. Também, que diferença isso faria? Era apenas uma pergunta retórica. A beleza, em toda a sua soberania, estava presente em suas landscapes e reverberava fortemente em nós - era só isso que importava, importa, por nos abrir as portas (e os olhos) e franquear o acesso ao campo dos sonhos.

Rio de Janeiro, 2004

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > Email


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