| Pablo Di Giulio | Imagens registradas entre 2000 e 2005 no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, ponto alto do Carnaval, festa considerada a mais importante do Brasil. As fotografias dessa mostra tem como foco principal componentes dessas escolas de samba.
Os retratos, entre imagens únicas e trípticos, exibem rostos dos protagonistas da festa pouco antes de entrarem no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, RJ. Na área da concentração para o desfile, homens e mulheres foram fotografados de olhos fechados, levando nossa imaginação a tentar adivinhar pensamentos e sensações. As enigmáticas expressões corporais – principalmente faciais – se destacam em meio às exuberantes fantasias e maquiagens e a todo o esplendor do evento.
De acordo com o próprio fotógrafo, esses olhos fechados “podem ser tanto um chamado à reflexão, um olhar para dentro, como uma forma de protesto, uma forma de dizer calmamente ‘Eu estou aqui. Eu, que desapareço atrás das transmissões da televisão. Eu, que faço a festa, mas que sempre fico atrás de todos aquelas celebridades instantâneas que a cada ano surgem num movimento cínico de autopromoção. Eu, que faço de pano de fundo alegre e despreocupado, agora me revelo. Paro, fecho os olhos, volto meu olhar para dentro, para o infinito, bem longe do lugar onde você quer que eu permaneça’”.
Nas fotografias, impressas em tinta de preservação pigmentada sobre papel de algodão, as feições produzem um conflito entre concentração, ansiedade, meditação e serenidade. As mãos espalmadas dispostas nos trípticos, por sua vez, “sugerem um tipo de identificação nas linhas das mãos, o futuro e o passado, e também podem ser um tipo de provocação à encenação da resposta a uma blitz”, define Pablo di Giulio. Na imagem central desses trípticos estão os mesmos olhos fechados, mantendo a unidade da exposição e buscando um ponto em comum, não só entre os retratados, mas também em quem os observa.
Um mesmo olhar permite diversas interpretações. Segundo Emanoel Araujo, “o registro em close desses rostos de homens e de mulheres revela uma nova faceta do olhar de Pablo, sempre voltado para um trabalho denso de muitos significados, onde cria a dualidade da imagem, numa leitura ambígua e metafórica para que se tenha a visão exata e clara de sua proposta. A beleza e da beleza”.
Nas palavras de José Roberto Aguilar, “ao fechar os olhos dos retratados, Pablo desvenda a serenidade que conduz a meditação. E o carnaval vira um pretexto para meditadores de vestimentas estranhas e maquiagens inverossímeis”. Em seu texto, Aguilar compara as fotografias da exposição à fusão de Dionísio com Buda, do mundano com a meditação.
Para Diógenes Moura, as fotografias de Pablo Di Giulio “nos mostram, de certa forma, a intimidade que o fotógrafo vem buscando para descobrir um rosto entre todos nós: um, solitário, que se guarda dentro da fantasia. Outro, no meio da multidão, com as mãos espalmadas. Mãos que falam tanto quanto os olhos fechados de cada indivíduo. Todos eles juntos”.
Brasileiro por opção e de coração, Pablo Di Giulio exprime em seu trabalho uma visão distante dos clichês geralmente associados ao Carnaval, mesmo tendo passado grande parte de sua vida no País. O foco principal das imagens registradas não é apenas em samba, carros alegóricos, mulatas e passistas. Na verdade, elas retratam a explosão provocada pela junção de todos os elementos da festa no interior das pessoas, tanto de quem participa quanto de quem a contempla, seja de corpo presente ou através da tela de um televisor.
Retratos Calados não é uma mostra de fotografias a serem simplesmente admiradas. O conceito por trás da exposição cria identificação com o espectador, que é transportado para dentro do Sambódromo e preenchido com a expectativa que antecede os desfiles. “Com um olhar voltado para dentro, com os olhos fechados para o mundo, no meio da festa, alguns instantes antes do espetáculo, procuram o mesmo que nós, eles são nós”, diz Pablo Di Giulio a respeito dos personagens capturados por sua lente.
Nascido em Buenos Aires, em 1957, Pablo Di Giulio reside em São Paulo desde 1964 (com um período em sua cidade-natal entre 1972 e 1979). Possui tríplice cidadania: argentina, brasileira e italiana. No circuito de exposições internacionais desde 1989, o fotógrafo já exibiu seu trabalho no Brasil e na Argentina e também na França e na Alemanha.
Suas obras fazem parte de importantes acervos, tanto públicos como privados, podendo citar Gilberto Chateaubriand, Luiz Oswaldo Pastore, MAM/SP, MASP/SP, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu Nacional de Bellas Artes de Buenos Aires, Argentina, entre tantos.Rio de Janeiro 2011
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