Norberto Nunes.
"Pintor-amante de Lisboa de todos os livros"©Alexandros Papadopoulos Evremidis*
Óbvio é o título, óbvio, o teor e óbvia, a nacionalidade de Norberto. Mas a obviedade pára por aí porque, há muito, Norberto Nunes transcendeu os limites e se tornou cosmopolita e universal, já que a arte não tem pátria nem mátria, só frátria - no dizer do mano. A arte dele nada escamoteia, pelo contrário, revela muito do seu orgulho, e diz logo e à primeira vista que deve ter passado a infância debruçado sobre revistas de quadrinhos ou assistindo desenho animado. Pronto, nascia aí o artista do grafite, do grafismo, do publicismo, do gráfico e do cinematográfico.
Norberto faz descortinar diante de nossos olhos o objeto de sua memória afetiva - Lisboa ou simplesmente a "pólis", já que Lisboa, fazendo jus a seu fundador Ulisses, caiu no mar para estar no mundo! Não há ruela, beco, bar, biblioteca, casa ou edifício que não tenha lhe despertado a sensibilidade amorosa. E por todos os ângulos e perspectivas, destacando-se os planos aéreos e os diagonais por criarem a panorâmica divina. Mas não é uma cidade vazia, morta ou fantasma. É habitada, pulsante, alegre e descontraída, cheia de gente e calor humano, tudo conspirando para qualificá-la como cidade em movimento - um moto perpétuo. E que movimento! Fugaz e fugidio. Vertiginoso a tal ponto que, por vezes, parece apenas o rastro do que há pouco havia ali - a vida em sua efemeridade.
Cada quadro de Nunes na verdade é um conjunto de fotogramas que filmados em seqüência nos dariam o mais belo, preciso e detalhado documentário da cidade e de sua vida vista por quem a ama e quer compartilhar esse amor conosco. Não carece de esforço, a empatia é instantânea. Suavemente, mérito das cores escolhidas, Norberto nos envolve e nos conduz pela montanha russa do difuso e do onírico - vôo e libertação. Justamente porque ele nada capta para reduzir ao repouso do estático, mas para conferir dinâmica e orientar para a liberdade.
E os livros!? Zeus dos Céus! Nunca ninguém pintou tantos livros! Livros por todos os cantos, estantes e mesas, espalhados ou empilhados tão assimetricamente que criam uma tensão, por sua materialidade e por seu conteúdo, como a indicar que, sendo eles guardiões da civilização e da cultura, do conhecer e do saber, vivemos no limite da destruição - ameaça natural e humana.
Rio de janeiro 2001
©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > Email
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