| Monica Barreto |
Esse texto não tenta dizer em palavras o que Monica Barreto nos mostra nas suas obras da arte, mas serve para acalmar aqueles que ficam nervosos sem receber ‘explicações’. Culpa de uma educação positivista, cheia de ordem e progresso onde sonhos e emoções tendem a ser explicadas fisiologicamente. Nada de abstrato aqui, nada mensuravel matematicamente, mas livremente figurativo em todos os excessos. Olhar para uma gravura de M.B. é como ter um acesso momentâneo a um outro mundo ‘diferente’... Pelo menos durante os primeiros segundos (ou antes de ter lido o resto do texto)...
Explicação 1: Todas as obras de M.B. exprimem uma vontade de se libertar. Não que M.B. se encontre mais presa que nós, mas porque ama a sensação de estar livre. Uma vontade de viver no sentido Nietzschiano: querer ser seu próprio deus.
Explicação 2: ‘Como sabemos isso?’: Os melhores criticos de arte ficam sempre ‘acompanhando de perto’ ou na maioria dos casos ‘correndo atrás’ do artista. Só para obter confidências e observar certos contextos para então aumentar a fascinação do mergulho( cada vez que o observador se jogasse dentro da obra). Não estamos vendo aqui pessoas que parecem ter cara de marionetes? Marionetes dão a impressão de atuar livremente num palco, mas ficam presas na ‘trama’ de suas cordas onde as mais fortes são aquelas invisiveis. Voar e estar preso ao mesmo tempo, como num avião. Viajar, mas se sentir como a bagagem, um peso a ser carregado: a imagem recorrente da mulher dentro da mala, a mulher-mala. A mulher que não sai do armário, sempreatrapalhada por algo tão ridiculo como uma touca de bébé ou que tal por ‘laços’, outra imagem ‘fetiche’. O ‘agent provocateur’ dentro de M.B. se sente amarrado, mas sabe que basta puxar levemente uma das extremidades para se soltar a qualquer momento. Do mesmo jeito que ela recorre na vida real à performance para se livrar de uma situação sufocante ou tediosa. Há uma gravura mais recente onde se deixou mais solta,( não se preocupava muito com o desenvolvimento da obra em si), onde a fluidez da forma deixouum braço virar quase uma asa...
Em certa gravura a mulher está olhando para um cavalo de onde tantas vezes caiu, num cenário de cortinas drapeadas. Dessa vez o corpo, cheio de autoconfiança, quer dominar o cavalo para se apropriar do seu espírito selvagem. Ser livre aqui é tornar-se indomável. Youcan’tcontrolwhatiswild, como o Earth Liberation Front costumava dizer. É um dizer ‘sim’ ao convite de Deleuze para ‘tornar-se animal’.Que seja um cavalo ou um pássaro. E no próximo trabalho com cavalo somente as janelas sobram da imagem recorrente do avião. E então, com o rosto levemente tocando a janela, é possível ter a máxima sensação de estar voando...
Peter Beysen (antropólogo)
Rio de Janeiro 2012


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