"Corpos II", de Maurício Santos.
Um pintor às portas da percepção!

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Obra_de_Maurício_Santos Uma beleza estranha e perturbadora - é o mínimo que se pode dizer do trabalho desse jovem e talentoso pintor que estudou com os mestres dos ateliés livres do Parque Lage e nos últimos dez anos fez mais de uma dezena de exposições no Rio e pelo Brasil afora.
Suas idéias sobre arte são simples e claras e ele as defende com absoluta segurança e tranqüilidade. Maurício não se deixa corroer por dúvidas e obsessões de ruptura com o passado, mesmo porque, a rigor, inclusive no terreno artístico, sabe ele que do nada, nada se cria - o sábio Lavoisier já o dizia. Dentro desse espírito, ele considera o ideal clássico de estética e beleza como matriz indispensável e fundamental para quem busca romper as fronteiras da modernidade.
Assim, seguindo as pisadas e os rastros das sucessivas escolas e correntes, ele se nutriu do que é essencial em cada uma e ecleticamente cristalizou, ao menos por enquanto, o seu próprio estilo - um misto da "pittura metafisica", do De'Chirico, com o dadaismo e o surrealismo dos outros.
Seu material, nessa fase iniciada em 1999, é o corpo humano, mas não enquanto figuração mecânica e naturalista; antes, Maurício investiga seu aspecto de matéria impregnada de vastos e múltiplos sentimentos, emoções e humores - de mistério e transcendência que são suas veias tônicas. Para isso, suas ferramentas, a linha e o desenho, são as mais simples e precisas possíveis, reduzindo o objeto à sua superfície, dentro do "Esprit Nouveau", de Ozenfant.
Em compensação, seu poder é nuclear e tanto pode ser demolidor como construtivo. Por meio deles, qual incisão cirúrgica feita por um bisturi na carne viva, cada tracinho seu, seja na superfície da matéria inanimada da tela, seja no ar e no espaço, é irreversível e suas marcas são indeléveis. Desmembra e mutila ele os copros de homens e mulheres e situa os fragmentos em inusitados e inquietantes cenários arquitetônicos e paisagísticos, de perturbadora amplidão, e os confronta, e nos confronta!, com o segredo do que há por trás de portas e janelas hermeticamente fechadas, das aparências do mundo objetivo, das sombras de que nos falava Platão em sua caverna.
O artista não deve revelar tudo, pondera Maurício, para não desprover a vida de encanto e de desafio, de motivação e de estímulo. Não bastasse isso, para não tornar espalhafatoso e sufocar o desenho e suas estranhas significações, ele se serve de uma paleta de cores absolutamente discreta e comportada, contida no limite, quase muda, e a um tempo suficientemente reveladora das insinuantes e sensuais intenções de seu astuto manipulador.
Não fosse Maurício pintor, certamente seria um poeta dos mais contundentes e viscerais a nos familiarizar com o absurdo da vida e de como esse absurdo pode ser transmutado em arte. Seus trabalhos possuem essa qualidade profunda, próxima do limiar da metafísica, que conquista novos espaços pictóricos povoados por despersonalizadas figuras humanas. Pés e mãos subindo pelas paredes não lhe faltam. Essa curiosa e dissonante associação de espaços e objetos acaba por criar uma realidade paralela, enigmática, só encontrada no mundo dos sonhos, onde tudo é livre para todos. E é com isso que na "real realidade" também todos nós fantasiamos.

Rio de Janeiro 2003.

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