| Mary Vieira - O Tempo do Movimento |

A dinâmica da estética do sentimento: É preciso estar possuída por um espírito ousado e corajoso para se expressar em arte refinada, lúcida e cristalina como essa de Mary. Respeitar os materiais e deles extrair o máximo de beleza com o mínimo de desperdício. Ésthesis pura! - Alle Kunst.



A mostra reúne, pela primeira vez no Brasil, um conjunto significativo de esculturas, serigrafias, maquetes e fotografias, traçando o percurso estético da artista desde o início de seu trabalho, no Brasil, no final dos anos 1940, até 2001, ocasião de sua morte na Europa.

Poética e obra

A partir de sua formação, iniciada em Belo Horizonte com Guignard e posteriormente na Escola de Ulm, na Alemanha, Mary Vieira empreende um percurso de profunda inovação, baseado numa síntese da arte concreta e de uma nova ênfase sobre a participação do espectador na criação da experiência estética, por meio de formas múltiplas. Através do tempo e do movimento Vieira desenvolve uma poética de valor internacional. Mudando-se para a Suíça em 1951, a artista percorre um caminho original e coerente, sendo hoje reconhecida em toda a Europa como uma das mais significativas representantes da arte cinética.

A maior parte das obras da exposição vem do Arquivo Belloli-Vieira, aos cuidados do ISISUF (Milão - Itália), que desenvolve também um trabalho de pesquisa, avaliação e autenticação da obra da artista. Um catálogo geral da obra de Mary Vieira está atualmente em processo de compilação pela instituição. A este corpo principal foram acrescidas obras de coleções suíças e de instituições brasileiras, como: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - Coleção Gilberto Chateaubriand; Museu de Arte Brasileira da FAAP; e Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Percurso da mostra

No primeiro núcleo é apresentada uma cronologia da artista que reúne fatos biográficos, fotos e participações em exposições, além de publicações nacionais e internacionais. O conjunto permite ao visitante conhecer mais profundamente a vida e a obra da artista. No mesmo espaço, em cartazes e vitrines, estão reunidas suas principais criações em design gráfico. Um documentário realizado em 1967 pela televisão suíça, dirigido por Gilbert Bovay, traz uma importante entrevista na qual ela discorre sobre seu trabalho. Uma série de contribuições específicas evidencia o processo criativo da artista, entre elas estão protótipos, cálculos para a realização de obras e a maquete de uma de suas primeiras peças, "polivolume: introversão-extroversão", realizada em 1948, em Araxá (MG). Vieira lecionou durante mais de 30 anos na Escola Superior de Arte e Técnica de Basiléia (Suíça) e criou projetos urbanísticos para inserir suas esculturas nos espaços públicos. Ainda nesta sala é apresentado o filme de Rubens Richter sobre o "polivolume: ponto de encontro" (1970), localizado no Palácio Itamaraty de Brasília. Realizado em 1970, para a participação da artista na bienal de Veneza, o filme, através de um processo de animação, demonstra as interações que a escultura possibilita.

No segundo núcleo está reunida uma série de esculturas, que oferece ao público a oportunidade de acompanhar o processo artístico de Mary Vieira. São trabalhos que exploram as infinitas possibilidades de mutação da forma e da luz num ininterrupto diálogo estético com os espectadores. A obra de abertura é tempos de um movimento: "luz-espaço a + b", de 1955, nela a artista apresenta as possibilidades plásticas da reta e da curva, alcançando a essência de sua poética: o tempo como desenvolvimento sintético do movimento. São os anos nos quais, graças a uma troca intensa tanto no plano privado quanto no artístico-intelectual com o artista e crítico italiano Carlo Belloli, Vieira alcança a sua plena notoriedade.a sequência vai até os anos 1970 quando a artista passa a se dedicar mais intensamente a obras públicas.

O terceiro núcleo da exposição é composto por uma importante seleção das obras monumentais realizadas pela artista. Mary Vieira exerceu seu domínio estético em praças e esculturas na europa, principalmente na Suíça e no Brasil. Entre os trabalhos, apresentados através de slide-show, backlights e maquetes, estão o "intervolume: flexibéton" (1975), um elegante rodopio de massa em concreto armado, de oito metros de altura, situado nos jardins do Hospital Municipal da Basiléia (Suíça); o "polivolume: conexão livre" (1953), de quatro metros de altura, uma homenagem a Pedro de Toledo, situada no parque do Ibirapuera (sp); a obra "libertação: monovolume a ritmo aberto" (2001), localizada no sopé do Monte Castello (Itália), em homenagem aos pracinhas brasileiros que lutaram na Segunda Guerra Mundial; e o "polivolume: itinerário hexagonal, metatriangular de comunicação táctil" (1968), da Biblioteca da Universidade da Basiléia (Suíça). Também é apresentado o filme de Virginie Otth e Adrien Cater, realizado especialmente para esta exposição, sobre a obra "polivolume: função de forças opostas" (1975), situado no interior do Instituto de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da Universidade de Basiléia (Suíça).

Biografia

Mary Vieira (1927-2001) nasceu em São Paulo e foi criada em Minas Gerais (Brasil). Estudou com Alberto da Veiga Guignard em Belo Horizonte. Em 1947, expôs no Salão dos Jovens Artistas Brasileiros, organizado pela Prefeitura de Belo Horizonte, e, no ano seguinte, realizou as primeiras maquetes de uma obra dinâmica, na qual a experiência estética se integra de modo indissolúvel à participação direta e co-criativa do público.

Em 1951, estabeleceu-se na Europa, sendo imediatamente acolhida pelo grupo dos concretistas suiços. Em 1953, Mary Vieira recebeu na II Bienal de São Paulo o Prêmio "Escultor Brasileiro" do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A convite de Max Bill, participou da última exposição do Grupo Allianz, em 1954 na Suíça. Em 1957, Mary casou-se com o poeta e crítico italiano Carlo Belloli, com quem manteve um diálogo intelectual fundamental para o seu percurso estético. O casal viveu e trabalhou entre a Suíça, a Itália e o Brasil. Na Europa, Mary Vieira aprofundou suas propostas de uma escultura de formas dinâmicas, que foram sucessivamente classificadas como: monovolumes, multivolumes, polivolumes e intervolumes. A artista é reconhecida pela crítica internacional como uma das principais representantes da arte cinética. Em 1966, recebeu o "Prêmio Internacional Marinetti para Pesquisas Plásticas de Expressão Cinevisual", por ocasião das celebrações do 20º aniversário da fundação dos "Salons des Réalités Nouvelles", no Museu Municipal de Arte Moderna de Paris.

Muitas de suas obras estão instaladas em locais públicos no Brasil, como na Praça Rio Branco, em Belo Horizonte; Parque Ibirapuera, em São Paulo; e Ministério das Relações Exteriores, em Brasília; e no exterior, como na Biblioteca da Universidade da Basiléia (Suíça); em Monte Castello (Itália); e no Parque Seefeldquai no lago de Zurique. Além de suas esculturas, Mary Vieira desenvolveu uma série de projetos como urbanista, designer gráfica e professora da Kunstgewerbeschülle na Basiléia. Participou de exposições individuais e coletivas na Europa, no Brasil e nos Estados Unidos, recebendo uma série de importantes prêmios pelo seu trabalho. Morreu na Europa em 2001.

Esculturas

Um mundo, ameaçado pelo domínio das forças da natureza sobre o ser humano, ofuscado pelo brilho da luz, um mundo no qual o horizonte infinito pode proporcionar a sensação de liberdade, mas também de solidão, no qual o crescimento abundante pode tanto fascinar como deprimir o ser humano, no qual o solo presenteia o ser humano abundantemente com as suas frutas, podendo seduzi-lo assim para a inércia, esse mundo me deu à luz e me impregnou a angústia de perder a natureza em mim inerente.

Quando comecei, como uma pessoa jovem e motivada a procurar - ou a encontrar - a forma livre, o meu ambiente não me deu parâmetros para medir o valor ou o desvalor dessas formas.

Tornou-se para mim uma obsessão afastar-me interna e externamente e encontrar esses parâmetros. Minha decisão de viajar para a Europa estava tomada.

Lá pretendia procurar pessoas, em cuja vida e trabalho poderia me certificar, em que pé estaria na minha busca de formas novas.

O trabalho dessa busca me foi poupado de forma completamente inesperada.

Estive em uma exposição em São Paulo - isso foi em 1951 - e vi as obras, que mostravam de uma forma finalizada, aquilo que eu estava tentando. Foi a exposição de Max Bill.

Sabia instintivamente, que atrás daquelas obras deveria haver um homem, cuja busca artística era semelhante à minha.

Esperei ele concordar e viajei a Zurique. Em Max Bill e suas obras encontrei os parâmetros procurados. Sua atitude em relação ao trabalho artístico foi para mim um modelo em todos os sentidos. Com ele aprendi a orientar a minha busca criativa em uma relação clara com o ambiente e a minha pessoa.

Era meu ajudante e consultor.

Nele, aprendi a admirar: sua capacidade de distinção entre o essencial e o não essencial, a organização de seus pensamentos e de suas idéias, assim como a sua capacidade de concretizar a sua idéia sem rodeios. Com isso, ele incorporava para mim como artista plástico as melhores qualidades que a Suíça como união de povos pode proporcionar a cada um.

Para mim, é muito produtivo poder trabalhar nesse país, no qual o todo e o indivíduo sabem viver claramente e em interna harmonia. Isso proporciona a nós, jovens artistas inovadores, o solo em que a semente pode germinar e se espalhar pelo mundo afora.

Zurique, em outubro de 1954 - Mary Vieira


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©Alexandros Papadopoulos Evremidis = escritor crítico > Email
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