| Martha Gubernikoff - A vida secreta das plantas |

"Sinfonia da íntima policromia"

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Obra_de_Martha Na troca de emails que animaram a inserção da notícia desta sua expo, no Jornal, lembro ter insinuado algo, cujo explicitado sentido seria que ...

... a arte dela, Martha, começa na sua própria pessoa física - amendoada, esculturada, insinuante como uma marta, luminosa, atraente e atrativa ...

... continua na forte e determinada e meticulosa e persistente, excitante personalidade, manifesta inclusive no lay out de sua expressão epistolar, na persecução dos seus oníricos objetivos e em seu cândido approach na direção do Outro, ...

... e, finalmente, deságua no mar aberto e acolhedor e aconchegante de sua ardente e candente arte - expressão máxima de suas paixões.

Vaticinei então que, haja visto, o conhecimento ser experiência pessoal intransferível, teria ela que percorrer os desertos e, diante da ausência de sentidos e direções, diuturnamente dos astros se socorrer, de cuja companhia, certamente por mérito, um dia privaria, inseridos-se em meio às constelações.

Não conseguindo me furtar à vaidade da didática, disse ainda que em arte o que importa é o que ela exporta de emoção e para onde nos transporta. E só.

O restante quem diria a sua fotografia seria, já que, sensível criadora que, vê-se logo, Martha é, ela primeiro se impressionar deixaria. Avaliaria. Juízos de valor emitiria. Selecionaria e enquadraria. Por uma fração temporal, a respiração e o mundo em suspenso suspense manteria. E, então, resoluta, o botão apertaria, assim provocando ou catalisando a cadeia dos acontecimentos, a luz sua câmara escura invadir permitiria e o celulóide ou o disco com imagens de plantas e de sua poética por excelência - folhas e flores - inapelavelmente impressionaria.

Transferidas para o papel fotográfico, elas em si e per se obras de arte seriam. Não o suficiente, naquele seu momentum, para a Martha que, além da configuração estética física, desvelar-lhes também a sublime química ardorosamente desejava - o que ela chamou de a vida secreta das plantas. Para maior intimidade, a vida íntima, diremos.

De fato, operando com ponta seca, ela com elas interagiria, nelas interviria e com amorosos procedimentos e delicada precisão cirúrgica, por meio de significativas incisões, as dissecaria, seu recôndito penetraria e pública e manifesta a cadeia de seu processo vital tornaria: teias abertas de veias, artérias, vias linfáticas, tecido nervoso, meridianos de fluxo energético, ... Não descuidar da resultante mais valia - a fantasmagórica e explosiva expansão da sua policromia - do seu espectro cromático, resolvendo-se em sensualíssimas formas de áurea luz, seiva transmutada em sangue e precioso jade.

Construí esta avaliação em jocoso ia ia ia ... para dizer que Martha foi, buscou, achou e retornou trazendo-nos o que disse importar - a movente e comovente beleza da vida, não mais secreta, das plantas, já que agora por ela revelada se encontra e aqui renomeada - vida intimamente íntima. Não será por acaso que seu epônimo remete ao lúcido Copérnico.

Rio de Janeiro – Junho - 2005

Alexandros Papadopoulos Evremidis = > escritor crítico > E-mail


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