| Márcio Aurélio - Poesia Seca |
A cor e seus poderes afirmativos
Márcio Aurélio é natural de Cuiabá, MT, começou a pintar através do Ateliê da Fundação Cultural, em 1976, recebendo orientações de Dalva de Barros, Humberto Espíndola e Aline Figueiredo. Nestes vinte e oito anos de carreira trabalhou diversas temáticas, a exemplo do folclore popular, da religião, e da fauna, sendo que nesta última deu especial atenção aos pássaros, contudo, na década de noventa passa a se dedicar às paisagens, pintando as diversas faces do cerrado.
Ao observar as atuais obras de Márcio Aurélio, nota-se uma forte característica da arte contemporânea, que é a queda das fronteiras entre a arte erudita e popular. Existem características da arte popular, Naif, principalmente no desenho, contudo, a sofisticada combinação de cores, a madura composição de espaços, a noção de perspectiva e de fotografia, confunde o público habituado à dicotomia histórica.
A utilização de tons terra e do ocre dá o diferencial na cor, também faz inversões, o céu, a árvore, a flor, o pássaro, ganham cores somente possíveis na ótica do artista. Curioso é notar que esta inversão não prejudica a sensação de naturalidade.
Márcio busca reforçar o cerrado como símbolo cultural. Na mesma exposição ele mostra delicadas flores e, também, galhos secos e retorcidos, como se quisesse falar da resistência e da beleza de uma vegetação que permanece mesmo sofrendo queimadas e períodos de estiagem. Segundo o artista o galho seco do cerrado está vivo, é belo, pronto para se encher ao sinal das primeiras águas.
O artista também se preocupa com a “cultura da monocultura”, que tende a homogeneizar a diversidade o Estado possui. A forma que Macio Aurélio tem para falar é mostrando esta diversidade natural.
A exposição “Poesia Seca” é uma metáfora da pintura contemporânea mato-grossense, mostra um veterano das artes, oriundo do meio popular, utilizando o suporte tradicional para expressar a essência da cultura do centro do País.
Rio de Janeiro 2004
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