| Manfredo de Souzanetto | Paisagem da Obra |
Paisagem da obra é um panorama da produção de Manfredo de Souzanetto, artista plástico mineiro, radicado no Rio de Janeiro, 58 anos, que reúne cerca de 60 trabalhos, dos primeiros desenhos dos anos 70 às esculturas de 2006.
A mostra marca a edição do livro de mesmo título, com lançamento previsto para 17 de maio, pela editora Contracapa. A publicação tem 208 páginas, 160 fotos, cronologia comentada e ilustrada, textos inéditos, do crítico brasileiro Agnaldo Farias e do francês Philippe Cyroulnik, e históricos, de Carlos Drummond de Andrade, Roberto Pontual e Paulo Herkenhof sobre o artista.
Passeio pela paisagem
A exposição tem montagem cronológica, começando pelos desenhos figurativos do início da década de 70, em que a paisagem mineira é o elemento principal, com formas humanas sugeridas, mas perfeitamente identificáveis. É desta fase a série de trabalhos sobre papel da sua primeira individual no Rio de Janeiro, em 1975, intitulada "Olhe bem as montanhas", uma citação ao movimento de preservação ecológica. Esta exposição gerou uma crônica de Carlos Drummond de Andrade, publicada no Jornal do Brasil: "Manfredo 'olhou bem' as montanhas, por isso as fixou tão bem, não em sua realidade fotográfica, mas nessa outra em que o artista consegue envolver as coisas, penetrá-las, sublimá-las. As montanhas que ele, por sua vez, nos convida a olhar bem, guardam o sentido telúrico imemorial que as prende ao contexto da vida humana."Neste mesmo ano, o artista viajou para Paris com a bolsa de estudos pelo primeiro prêmio no Salão de Arte Universitária de Belo Horizonte, e só voltou ao Brasil em 1980.
As obras dos anos Paris assumem a abstração. A figuração - paisagem e figura humana - desaparece e ele começa a pintar sobre tela. O artista conta que essa passagem se dá em razão do contato com a arte internacional, com a qual não tinha acesso nos tempos de ditadura militar no Brasil. "Foi na Europa que me aproximei da Pop Art, do minimalismo americano e 'descobri' os construtivistas russos", conta.
Ainda na temporada na França, Manfredo realiza intervenções pictóricas em árvores e pedras nos bosques franceses. Na medida em que se afastou da paisagem no papel, se aproximou dela na natureza. Afinal, a paisagem era o leitmotif da sua produção, como afirma o artista. O registro dessas intervenções e seu subseqüente desaparecimento está nesta mostra, em fotografia.
De volta ao Brasil, Manfredo continuou fazendo as intervenções no espaço natural durante o ano em que morou em Juiz de Fora [1980]. Foi neste período que começou a pintar com pigmento de terra, por ter constatado que a paisagem tinha suas cores e não precisava das dele [as intervenções].
A série "Na mina de caulim", de pinturas com pigmento de terra fabricado artesanalmente, ganhou o prêmio de melhor conjunto de obras do Salão Nacional de Artes Plásticas em 1980.
Traço distintivo da produção de Manfredo, as telas com chassis irregulares surgem nos anos 80. O suporte tradicional não mais satisfazia o artista, que passou a construir novas formas para fixar a tela, resultando em quadros-objetos, ainda instalados na parede. A fase seguinte mantém o formato irregular e acrescenta peças de madeira que se projetam no espaço.
"A forma recortada acentua a materialidade do quadro, pois o suporte não é mais um retângulo ou quadrado neutros, onde a pintura acontece, e sim um elemento ativo que amplia sua significação", diz Manfredo.
Nos trabalhos dos anos 90, Manfredo introduz mais organicidade, mais curvas e reentrâncias no formato das pinturas, por ter passado a fazer o projeto de cada obra a mão livre, diferentemente da fase anterior em que usava régua e compasso.
As pinturas começam a sair para o espaço, isto é, os quadros são instalados perpendicularmente à parede, possibilitando a visão das duas faces da tela.
A estada de seis meses em Limoges, França, entre 1999 e 2000, acrescentou ao artista a técnica de modelagem da escultura. Ele ganhou a Bolsa Virtuose 1999/ 2000, do Ministério da Cultura brasileiro para uma temporada na École Nationale d'Art Décoratif de Limoges-Aubusson.
Daí surgiram esculturas de porcelana, inicialmente de parede, e, a partir delas, Manfredo investiu na tridimensionalidade. É a experiência em Limoges que define a saída da obra de Manfredo da parede para o espaço. Os relevos abstratos de porcelana têm caráter orgânico, semelhantes a partes do corpo humano entumescidas, em uma aproximação mais carnal com a natureza, bem distantes da geometria tão marcante de fases anteriores.
Entre as obras mais recentes da mostra estão esculturas de chão em mármore puro ou composto com cobre, chumbo, bronze, pedra natural, ferro, alumínio, e "desenhos" cujas linhas são feitas com madeira, pousadas diretamente sobre a parede. Agora a cor aparece apenas para marcar diferenças de planos, ou no tom original dos materiais.
"Atualmente, minha obra é um constante vaivém entre a sensualidade da curva e a aresta viva do ângulo agudo, o vibrato da cor e a tatilidade da matéria, em que passamos do surdo ao vivaz, do orgânico ao geométrico, em que as formas trabalhadas em volume, como um corpo orgânico abstrato, criam descontinuidades e variações, permitindo imaginar configurações que se valem de uma estrutura fragmentada", define Souzanetto.
Rio de Janeiro - abril - 2006
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