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Mad� Papadopoulos - paisagens interiores
©Alexandros Papadopoulos EvremidisNasce-se artista ou artista � produto do meio? Discuss�o int�rmina e inoperante. Talvez seja caso de antinomia kantiana, segundo a qual, dado um dado m�todo, tese e ant�tese s�o igualmente verdadeiras. Fa�o refer�ncia a isso porque, embora Mad� Papadopoulos n�o houvesse se sujeitado a estudos formais de arte, salvo aos de dan�a, que n�o deixa de ser um din�mico desenhar/performar no espa�o, parece ter sido artista, sen�o antes, a partir da mais terna idade, j� que suas mais remotas recorda��es remontam a um prazeroso rabiscar, colorir, pintar, se expressar de todo modo. Artista, portanto, in germine e de longa matura��o. E nem que fosse do tipo arteira, pois lembra ser sua maior e mais preferida arte a de correr, fugir da supervis�o e do dom�nio e da opress�o familiar para se dar e entregar a artes e a manhas, a traquinagens. Sim, tamb�m isso qualifica e estigmatiza, para o bem! o artista, insubmisso e rebelde e voluntarioso e eg�tico, n�o ego�sta, muito antes pelo contr�rio, que �.
Fiz justa ressalva � aus�ncia de estudos formais, mesmo porque eles, tirando a t�cnica e visto arte ser express�o �ntima, pouco ou nada acrescentam de substantivo. N�o Deus nem a Moira escrevem por linhas tortas. � mais simples que isso. Existindo voca��o e surgindo a oportunidade, que faz o ladr�o, esta tamb�m faz e refaz o artista. De fato, j� na maturidade, subitamente Mad� se viu circundada e enredada em c�rculos art�sticos, que a influenciaram e fizeram aflorar e florescer a sua inequ�voca destina��o. Identifica��o e empatia com a arte e os artistas foram, portanto, decisivos elos e condutos, que guiaram seus passos ao atelier de Rainer Barbosa, em cujo cen�rio ela come�ou, e foi pra valer, a colocar a m�o na massa, quero dizer, nas tintas. Foi quando a luz se refez e foi como uma liberta��o, uma vaz�o e uma extravas�o do j� por tanto tempo represado. Da� que a j� agora artista Mad� n�o mais parou - o que faltou em estudos formais, ela compensou com o recurso a cursos os mais variados, que ela freq�entou e em que experimentou na dedicada pr�tica o desenho, a cer�mica, a pintura a tinta acr�lica e a �leo e mais. E � praxis do primeiro atelier de Rainer Barbosa, somaram-se, ent�o, em sucess�o, os dos artistas Yara Tupinanb�, Gl�uco Morais, Luciene Tim�teo, Wilda Figueredo, Maneco Araujo e Marcelo Tanaka, entre outros.
Embora feliz com o dom�nio dessas t�cnicas e desses materiais, Mad�, agora j� plena artista de pleno direito, como num simb�lico retorno �s suas ra�zes e �s suas origens gregas, prosseguiu com sua busca e mergulhou na enc�ustica* - arte que a fascinou por seus mist�rios e seus segredos, e a estimulou a exaustivas pesquisas e estudos, inclusive com monotipias, a ponto de categorica e peremptoriamente se dizer realizada e afirmar ter-se finalmente se encontrado e encontrado nela o que ela procurou a vida toda. E que, � justo, lhe propicia com seus inesperados e surpreendentes resultados a mais madura satisfa��o.
�, sem d�vida, admir�vel o modo como Mad� vivencia a sua arte e faz dela uma profiss�o de f�: "Quando estou pintando, me sinto verdadeiramente em harmonia comigo mesma. � quando reconhe�o a minha ess�ncia e contemplo o meu Deus. O que espero da minha arte e o que ela me d� em profus�o � a imediata transfer�ncia para o p�blico dessa incontida alegria e do prazer que sinto no ato de pintar." De fato, ao observar atentamente as suas telas vemos o gesto liberto de constrangimentos descritivos ou narrativos, e a cor se desdobrando com toda autonomia em delicadas nuances, o que resulta em estrutura s�lida e harmoniosa, que nos convida a um passeio por paisagens a um tempo reais e familiares, mas tamb�m interiores e �ntimos, subjetivos e intimistas. Contemplativos e complacentes em todo caso. Tudo com tudo, a um irrecus�vel apelo �s nossas recorrentes mem�rias afetivas. Posso destarte, sem risco algum, dizer estar Mad� transcendendo a dimens�o tradicional da pintura - formal e materialmente -, pois suas cria��es remetem a algo desej�vel, mas intang�vel, a ap�crifos percursos de dom�nios vision�rios: ora do et�reo sonho e ora do ardente desejo, da explosiva celebra��o da vida, da sensualidade da mat�ria.
*A Enc�ustica, embora t�cnica de pintura antiga de 2.000 anos, muito utilizada por gregos, eg�pcios e romanos, � ainda desconhecida para muitos at� os dias de hoje. � uma t�cnica nobre, apurada, resistente ao tempo e complexa, e muitos grandes g�nios da pintura a estudaram e utilizaram. Em sua f�rmula, entram cera de abelha italiana, verniz de Damar de Born�u, pigmentos australianos e terebintina de Veneza. Mesmo ap�s a passagem de todos estes s�culos, ela ainda possui as mesmas f�rmulas de aglutinantes e as t�cnicas de aplica��o, seja enc�ustica a ferro quente, seja enc�ustica a frio. Uma t�cnica enfim, como diz Mad�, envolta em mist�rios e segredos milenares.
Rio de Janeiro 2008
©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor cr�tico > Email
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