| Lucio Carvalho |
As obras dessa mostra, com curadoria de Li Camargo, são compostas por fotografias de alguns dos museus mais famosos do mundo, como Louvre, Metropolitan e Guggenheim, por exemplo, transpostas por imagens de objetos que evidenciam uma população marcada pela falta de acesso à cultura: cadeiras de plástico, varais, fiação com tênis pendurados, barracos, pneus, antenas. “Uma fatia da população miserável, sem teto ou terra, que passa a vida sem questionar, sem se rebelar”, diz Lúcio. “Pois que questione, invada e ocupe os maiores centros culturais do mundo, e que tome como seu por direito, trocando culturas, assimilando e sendo assimilada”, completa.
Invasões é marcada pelo contraste entre representações do que há de mais elevado em termos de cultura com a pobreza. De acordo com o artista, essa série representa “uma espécie de simbiose entre favela e barroco, ouro e lixo, riqueza e pobreza, o ganha-pão e a diversão”. Embora tenham total ausência da figura humana, com a qual Lúcio costuma trabalhar desde o começo de sua carreira, a ação do homem nesses trabalhos é evidente. Ainda que compostos apenas de objetos inanimados, são cheios de vida.
Essas obras são produzidas através da aglutinação de registros anônimos, jornais e revistas escaneados e imagens extraídas da internet. O processo é iniciado com a imaginação de uma cena onírica, passa por uma seleção de imagens quase aleatórias, chegando à composição da obra em si, que, ao chegar a um corpo satisfatório, é sujeita a um processo de finalização detalhada, com a inserção de texturas, estampas, sombras, brilhos, reflexos e distorções.
O modo de produção das obras que fazem parte de Invasões faz com que surja uma outra discussão, além do tema central, que aborda essencialmente questões de riqueza e pobreza, de acesso e restrição a espaços e bens culturais. Através da apropriação de imagens alheias para a construção de seus trabalhos, Lúcio Carvalho levanta mais uma questão que tem ligação direta com economia e cultura, assim como o cerne da exposição: a ideia clássica de autoria.
Nascido em Cambuci, RJ, em 1965, Lúcio Carvalho vive e trabalha em São Paulo. Graduou-se em Design Industrial na Unicidade, no Rio de Janeiro. Já expôs seus trabalhos em diversas cidades do Brasil e também na Itália, EUA, França, Bélgica, Japão e Holanda. Venceu prêmios nacionais e também no exterior, sendo um deles o prêmio do cinquentenário do museu Guggenheim, em 2010: uma proposta para a ocupação de seu vazio. Lúcio foi vencedor com uma obra que exibe um amontoado de barracos bem no meio do museu nova-iorquino, obra que, aliás, originou série “Invasões”.

Rio de Janeiro 2012


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