| Lincoln Nogueira | Poderíamos dizer, que para uma grande parte dos artistas pintores que ainda hoje expressam-se através da via formal e do ideário forjado no início do século XX pelo Construtivismo e que originou a Arte Concreta (hoje estilo universal), de certa forma, o fazem, insistentemente, como herança de tradição análoga às outras artes como na música, onde partituras de notas conjugam melodia, harmonia e ritmo; na poesia, onde o verso tantas vezes pensou-se ser possível demoli-lo e no entanto continua sendo forma dominante de construção verbal; na dança, que não pode prescindir da coreografia, assim como na ópera, o bel canto que o intérprete conheça exatamente cada nota musical antes de poder dar-lhe interpretação subjetiva, etc. Evidentemente, nos referimos ao equipamento técnico-estrutural de cada uma dessas e outras artes.
Assim, para os pintores, plano, espaço, cor, linha, volume, corte, superposição, transparência, textura, matéria, dobra, apropriações, colagens, e tantos mais valores em jogo na criação de novas visualidades, constituem ainda elementos essenciais para o quadro ou objeto que busca estética fértil desta linguagem artística.
A aventura da forma que no início do século XX liberou a pintura de sua qualidade representativa parece ter, no mundo de hoje, um papel perfeitamente integrado, familiar e estimado por todos os públicos. A existência da nova forma liberta da noção do espaço representativo é algo Lincoln Nogueira perfeitamente aceito e até mesmo exigido pelo público de museus e galerias de arte. Hoje, praticamente, ninguém se choca diante de uma pintura monocromática, para citar apenas um exemplo sobre a questão da cor. Ao longo de décadas, o olhar treinado aceita hoje a liberdade formal, outrora chocante e rejeitada, para afirmar a existência de uma espécie de visualidade globalizada.
Parece-nos salutar que assim o seja tal status da arte contemporânea e o que antes constituía embate sistemático entre as muitas vanguardas e que justificava o que, convencionouse chamar como “tradição de ruptura”: tal tradição hoje diluída e que, fortuitamente, são incomensuráveis os novos suportes que qualquer artista pode querer abraçar. Sejam pelas técnicas tradicionais ou essas oferecidas pelas novas tecnologias.
A obra do artista Lincoln Nogueira, em sua rica pesquisa, constituída de muitos desses valores plásticos a que nos referimos, segue em virtualidades e possibilidades que mais e mais, deixa-se impregnar aliada aos poderes da subjetividade: planos em dobras e quedas que dinamizam e afirmam suas construções ritmadas, como poderemos observar nos trabalhos que comporão a exposição “FITAR” na Galeria Hélio Rocha, que significam uma clara evolução, amadurecimento e síntese da série “ Caracteres, assim é se lhe parece” (2009), onde o artista corta cartões-postais em filetes e reduzindo-os a linhas que irão configurar uma desaparição da imagem-clichê para transformá-la em problema espacial cinético, e da série “Fitando “(2011), na qual o artista, ao pintar faixas e linhas na verticalidade das faces metálicas de lâminas de persianas utilitárias, constrói uma espécie de contra-paisagem modulada para espaços internos ou para diferentes possibilidades de instalação.
Não se pode e nem se deve esquecer a trajetória de Lincoln Nogueira enquanto designer gráfico e autor de literalmente centenas de capas de discos, cartazes e outros impressos. Nessa vastíssima atuação como designer de peças gráficas, logomarcas e embalagens, temos a evidência do ideal tão almejado e exercitado ainda hoje: esse da integração da arte e sociedade, ou seja, o binômio arte X vida e também a integração das artes. Como ignorar, em tal dimensão, os exercícios do artista proporcionados pelo simples fato de lidar, exaustivamente, com a figura do quadrado, do retângulo, das imagens e palavras neles impressas como criações para difusão de outra arte- no caso, a musica?
Lincoln Nogueira, segue em fusão de experiências e maduras demonstrações dentro do largo leque da arte brasileira onde se abre ainda exuberantemente nossa vocação construtiva.
Luciano Figueiredo, Rio de Janeiro, Julho de 2011Rio de Janeiro 2011
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