| Julio Villani |
Descrito por Agnaldo Farias como um artista que “opera com a diversidade, como que permanentemente tomado por um (…) movimento que o leva a unir o que está separado”, Júlio Villani apresenta uma série de colagens que separa o que junto está.As formas líricas, “grávidas”, dão corpo a outras que delas saem, multiplicando-as. Frequentemente derivam todas de uma mesma folha de papel: se fossem descoladas do suporte e encaixadas, seria retomado o fio da criação e seria reconstruída a figura original, prenhe de todas as outras.
Esta série de 35 obras que Villani expõe no Gabinete de Arte Raquel Arnaud responde ao questionamento do confronto que a oposição pintura-suporte supõe: não somente como lugar da cor – assumida, plenamente, depois de anos de uma certa austeridade monocromática – mas também como o lugar do encontro de duas matérias as quais, normalmente, não se misturam. O papel é feito para receber bases aquosas; a tela destinada ao óleo.
Óleo sobre papel é, em principio, um casamento contra a natureza profunda, intrínseca, dos materiais. Se sobre a tela preparada o óleo fica contido, compelido a não se alastrar além da área que lhe confere o pincel, eis que no papel ele pode enfim camuflar fronteiras e correr livre.
Stella Teixeira de Barros escreve a respeito dessa nova exposição de Villani no Gabinete: (...) As formas recortadas se sobrepõem a folhas de papel de velhas escrituras, de ordem jurídica na maioria, como indicam selos e outros indícios. Agregam a escrita - um recurso constante na obra de Villani - e interferem como linhas que se contrapõem à pureza das cores, com sentidos superpostos. Mas aqui pouco importa o significado primeiro, pois o que está em jogo é uma estratégia visual que abarca tanto signos como linhas, formas e cores, em permanente tensão.
(...) Do mesmo modo, guardam, sob a aparente inocência do recorte quase infantil, sofisticadas estruturas espaciais, conservando ainda reminiscências latentes de pesquisas anteriores, relacionadas com o universo concreto e neoconcreto dos anos 1950-60. Ao enfatizar o equilíbrio precário das verticais e horizontais entremeadas pela sinuosidade de círculos e semicírculos dos segmentos de cores expandidas, Villani transforma as massas em entranhas vivas e iluminadas, em que os elementos não permitem prefixar qualquer distinção hierárquica. Não deixam de ser configurações metafóricas em permanente pulsão, que proclamam o conflito de nossa condição no mundo.Rio de Janeiro 2007
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