| Joana Vasconcelos |
O projeto de Joana Vasconcelos, com curadoria de Miguel Amado, analisa a história cruzada de Portugal e Veneza. Estabelecendo redes mundiais durante a Idade Média e o Renascimento, Portugal e a cidade italiana contribuíram para a redefinição da imago mundi. A artista reflete acerca da zona de contato verificada entre Portugal e Veneza na contemporaneidade: um imaginário baseado no mar e no comércio marítimo, resultante de uma geografia equivalente.
Joana Vasconcelos explora três noções ou imagens comuns a Lisboa e a Veneza: a água [rio Tejo e lagoa de Veneza], a navegação e o navio. A artista debruça-se sobre um símbolo de Lisboa, o cacilheiro, que corresponde ao emblemático vaporetto de Veneza. Assim, transforma um cacilheiro, o “Trafaria Praia”, tornando-o simultaneamente em pavilhão flutuante e em obra. Durante a Bienal de Veneza, o “Trafaria Praia” tanto atraca junto aos Giardini [o mais importante local da Bienal de Veneza] como circula pela lagoa de Veneza, passeando visitantes entre os Giardini e a Punta Della Dogana [rota principal].
Joana Vasconcelos cobre o exterior do “Trafaria Praia”, da proa à popa, com um painel de azulejos em azul e branco, pintados à mão, que reproduz uma vista contemporânea de Lisboa, da Torre do Bugio à Torre Vasco da Gama. A peça inspira-se num trabalho fundamental da azulejaria nacional, o Grande Panorama de Lisboa, atribuído a Gabriel del Barco e datado de 1700, que mostra Lisboa antes do sismo de 1755. A peça realiza-se na Fábrica Cerâmica Viúva Lamego, reconhecida pela sua antiga e regular colaboração com artistas.
Na área central do convés do “Trafaria Praia”, Joana Vasconcelos elabora um ambiente à base de têxteis e elementos luminosos reminiscente de obras típicas como as da série “Valquírias” [desde 2004] ou Contaminação [2008-2010]. Esta peça compõe-se de coloridas formas orgânicas feitas à mão em crochê e outros tecidos, incluindo feltros de Nisa, que incorporam fiadas de lâmpadas LED. Tais estruturas emergem das paredes e do teto, “envolvendo” os visitantes numa atmosfera “uterina”, tão estranha quanto familiar, que suscita uma experiência tanto intelectual como sensorial.
Na restante do convés e no tombadilho do “Trafaria Praia”, Joana Vasconcelos cria várias áreas, desde a recepção à uma loja, bem como um palco. Neste espaço, promove-se a cultura portuguesa através da organização de múltiplos eventos, entre os quais concertos e mesas-redondas. Destaca-se a programação dos dias inaugurais da Bienal de Veneza, protagonizada por compositores e intérpretes de expressões musicais variadas, desde o fado à eletrônica improvisada.

Rio de Janeiro 2013


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