| Iole de Freitas - "Passagens" |
"\Asas/ da(à) imaginação criativa!"

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Passagens Iole é pássaro de asas abertas que se nos oferecem como refúgio. É só olhar atentamente para a suas esculturas. Esculturas? Sim, esculturas - arquiteturadas (sic).

Explico: Dédalo não é seu pai, é seu patrono e mestre. Disse-lhe ele: Se o condor voa próximo à morada dos deuses, cabe ao albatroz emular-lhe a generosidade. Com suas largas e compridas asas, lâminas orgânicas em dinâmica sinergia, ora célere, ora com tempo e vagar, rasga o ar e, livre, plana pela imensidão do espaço. Seu escopo - resgatar a memória e a verdade às trevas, trazê-las à luz, reentronizá-las, fazer com que tornem a reinar sobre o cosmo.

Tendo como referência o centro da terra e sua virtual circunferência, ela voa parabolicamente a eles e nos guia para o sem-fim. Partindo de um imaginário centro tópico de sua própria inserção e presença no ecúmeno, escreve e percorre as possíveis volutas, faz evoluções e revoluções, equaciona o sim com o não e configura épuras virtuais.

Para tanto, recorre (e delas se socorre) a dramáticas incisões e cortes, inscrições e semas, intervenções e coreográficas performances no que chamamos de espaço aberto (será aberto, se sobre si se curva?), no Chaos - o terrível terreiro das possibilidades.

Segue Iole hipotéticas linhas retas, invisíveis, por imaginárias, para nós, mas palpáveis e concretas para ela que: "O que é uma reta no universo?", pergunta. E então mergulha no escuro para buscar possíveis (serão também prováveis?) respostas. Feminina, entretanto, e matriz, geratriz e nutriz, portanto, ensaia e valida as recurvas, anula (subvertendo os teoremas) o dentro e o fora, o pesado e o leve, o além e o aquém, o curto e o comprido, o acima e o abaixo (do Equador). São valores que por vezes intuitivamente suspeitamos; outras, cristalinamente cremos estar vendo - percepção.

Iole não devaneia, especula. Resoluta, segura com as delicadas mãos generosas porções do tecido espacial e, como se concretas e como se cortinas sobre trilhos fossem, lençóis e cobertores, mantas de proteção, as puxa em torno de (e sobre) nós - divisórias, cúpulas, redomas, portos seguros. Abrigos para o efêmero de nossas corruptíveis carnes e a duvidosa durabilidade de nossos ossos, a eternidade de nossos sonhos.

De nada descuida. Subitamente (com tubos metálicos - vasos comunicantes do fluxo sangüíneo e da respiração) tange o solo, ciente e consciente que é de nossa primal e vital necessidade de um ponto de apoio e de sustentação - não era assim que Anteu (em flor) recobrava as forças? E não era com ele, o ponto de apoio, que o filósofo sonhava mover o mundo?!

Iole pesquisa. Estuda materiais (polímeros de carbono?) e, com a mediação de avançada tecnologia, com eles constrói - arquiteta, arquitetura a escultura. E para quê? - você pegunta: Para nos arrancar do apenas suportável e nos transladar para o confortável, para o funcional, o luminoso e, a um tempo, para o belo, para a poesia e a estética - concretas e no ato também etéreas, imateriais. Crê certamente a criadora que, melhorando nosso meio circundante, ipso facto, melhorará também nossas vidas.

Pequena e minúscula e translúcida e diáfana e transparente, tal qual suas técnicas, seus meios e suas metas, a considerável artista, decifrando o enigma da platônica caverna, nos quer libertar, mantendo-nos, por segundos, suspensos em suspense entre o ser e o nada (entre a glória de um e a queda do outro), abandonando-nos em (literalmente) pleno vazio, para finalmente, com uma ligeira batida de suas asas, fazer o ar vibrar e nos encorajar a voar. Voemos, pois, e sem medo.

Mas, se com medo, sem problemas: aí estão as acolhedoras e aconchegantes asas de Iole - é só se acomodar sobre elas e voar do mesmo jeito, até que nasçam e se fortaleçam as nossas. Que não tardem!

Foto: Alexandre Alves

Rio de Janeiro - 2005

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