"Bufólicas", "Cartas de um sedutor" e "Cantares", de Hilda Hilst / Editora Globo.
Iconoclasta HH

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Erótica não, obscena, disse ela preferir. E com todo direito e propriedade, pois após escrever sobre quase tudo, Hilda conquistou a liberdade de expressão total e irrefreada. Se bem que, no fundo, talvez não seja nem uma coisa nem outra, mas apenas cômica e humorística. É, sem dúvida, um dos meios mais sábios e eficazes de ser rebelde, inconformada, contestatária e iconoclasta. Parece ser o caso de "Bufólicas" que a Editora Globo acaba de reeditar e que no ato nos remete a bucólicas.

E se bucólicas vem a ser poesias e prosas plenas de inocência, natureza, beleza e alegrias brejeiras (dos pastores de bois!), as bufólicas são certamente coisas de bufão, ou bobo da corte, que recorre a alegorias, paródias, parábolas e metáforas, a palhaçadas mesmo, para cuspir seu recado na cara do rei e da corte a quem se destina, para ridicularizar e desmoralizá-los.

Para tanto, Hilda reinventa e relê, re-significa ad absurdum, os contos de fada e as fábulas eivadas de mórbido moralismo e desvairada hipocrisia. Destrói ícones que ludibriaram por séculos mentes inocentes e ingênuas. Chegou a hora da verdade para o rei viado que, calado, manda e desmanda por ser pintudo; a rainha que sofre de carência de pentelhos mas que se realiza com o cacete do mascate; Chapeuzinho Vermelho que é rufiã e cafetina do lobo explorado sexualmente pela vovozinha; o anão da "terceira perna" que por não saber pedir, ou por Deus ser leso de entendimento, acaba sem nem um toquinho de pauzinho; a cantora que é punida com a "garganta profunda" na vara do jumento pelas mulheres cujos maridos ela põe em delírio; a fada lésbica que, equipada com um "troço", a todas, e a todos!, seduz até ser raptada por um brutamontes e levada para uma ilha desolada.

A maga Drida (não era Brida?) merece um parágrafo à parte por nos lembrar o mago de araque Paulo Coelho que mantém um "diário" em que, dia após dia, registra todas as maldades, politica e socialmente incorretas, por ele cometidas contra negros, velhos, crianças, animais e homossexuais. O final, pleno de referências ao mistificador e pour cause bem-sucedido mago, para uns, maga ou bruxa fajuta, para outros, é apoteoticamente revelador:


"E agora vou encher de traques
Os caminhos dos magos.
Com minha espada de palha e bosta seca
Me voy a Santiago".

E conclui com:
"Moral da estória:
Se encontrares uma maga (antes
que ela o faça), enraba-a".

Rio de Janeiro 2002.

© Alexandros Papadopoulos Evremidis = escritor crítico => Email


Agora veja a capa, leia o release e controle-se para não se mijar de rir com as inspiradíssimas paródias de HH e sua freudiana diagnose sexual dos ícones.

Em Bufólicas, Hilda Hilst reinventa poeticamente o obsceno. Os desenhos de Jaguar ilustram a obra com lúcida irreverência, crítica e humor. Incluindo poemas como O Reizinho Gay, A Rainha Careca, O Anão Triste e Filó, a Fadinha Lésbica, entre outros, Bufólicas é uma antologia poética sem concessões nem pudores. Cômicas, burlescas, farsescas, os poemas de Bufólicas, fogosamente acompanhados pelos desenhos de Jaguar, que não desperdiça a oportunidade de exercer os dons de um sátiro do lado de baixo do equador, são devidamente contextualizados pela autorizada voz do poeta mexicano Octavio Paz: "Para a mente moderna, a poesia é energia, tempo e talento voltados a objetos supérfluos. No entanto, contrariando toda a lógica, a poesia circula e é lida... Seu valor e sua utilidade não podem ser medidos... E os poemas não podem ser economizados para formar uma poupança: eles têm que ser gastos."

Bufólicas foi lançado em 1992, logo após Hilda Hilst se dizer cansada do seu pouco reconhecimento e anunciar o adeus à "literatura séria." Como ela mesma afirma: "Mais do que mal interpretado, meu trabalho foi mal divulgado. Não é verdade que as relações sexuais sejam uma fixação nos meus livros. Mas estou em boa companhia: Du Bocage foi um lírico grandioso e menos de dez por cento de seu trabalho é pornográfico... Dos meus 36 livros, apenas quatro podem ser classificados de obscenos: O Caderno Rosa de Lory Lambi, Contos d'Escárnio, Cartas de um Sedutor, que compõem minha trilogia erótica, e as Bufólicas, poemas ilustrados pelo Jaguar. Mesmo nesses livros o que sobressai é o humor e a ironia."

Segundo J. L. Mora Fuentes, escritor e jornalista, que compartilha a rotina diária da Casa do Sol com a autora, "Hilda Hilst pertence ao patamar dos grandes artistas, cuja essencialidade nos impõe o dever de preservar todos seus escritos... Sábia de requintes que nos permitem avançar no pouco-nada que intuímos de nós mesmos, Hilda desmascara sem pudor, seja com cascos, suaves garras, ríspidas carícias, nossos mais preciosos ícones. E assim revela nosso rosto verdadeiro."

Em mais de meio século de atividade literária, Hilda Hilst escreveu poesia, ficção, teatro e crônica. Ela nasceu em Jaú, Estado de São Paulo, em 21 de abril de 1930. Em 1952, formou-se em direito pela Faculdade de Direito da USP (Largo S. Francisco). Em 1966, mudou-se para a Casa do Sol, uma chácara próxima a Campinas (SP), onde ainda reside. Entre suas obras poéticas, destacam-se: Da Morte. Odes mínimas (1980), Cantares da perda e predileção (1980), Poemas malditos, gozosos e devotos (1984) e Do Amor (1999). Recebeu os mais importantes prêmios literários do país e, a partir de 1982, passou a integrar o Programa do Artista Residente, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Em 1995, seu arquivo pessoal foi adquirido pelo Centro de Documentação Alexandre Eulálio, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, estando aberto a pesquisadores de todo o mundo.

Rio de Janeiro 2002.


"Cartas de um Sedutor", de Hilda Hilst / Editora Globo

Cartas de um Sedutor é uma das obras que compõe a trilogia erótico-pornográfica de Hilda Hilst. A autora descreve o cotidiano de Karl, um homem rico, amoral e culto, que busca a explicação para sua incompreensão da vida através do sexo.

O livro: Junto com A Obscena Senhora D e O Caderno Rosa de Lori Lambi, Cartas de um Sedutor compõe a trilogia erótico-pornográfica de Hilda Hilst. Em Cartas de um Sedutor, a autora descreve o cotidiano de Karl, um homem rico, amoral e culto, que busca a explicação para sua incompreensão da vida através do sexo. Karl escreve e envia vinte cartas provocativas a Cordélia, sua casta irmã. Os textos das cartas se misturam à vida de Stamatius, um poeta que encontra no lixo os manuscritos de Karl. Após a primeira leitura, percebe-se que ambos - Karl e Stamatius - são a mesma pessoa em tempos e condições diversos, mas com posturas diferentes diante dos mesmos questionamentos. O contraponto entre um e outro é o mote para uma obra de grandeza ímpar e absolutamente humana no seu sentido mais divino.

A história do livro: Cartas de um Sedutor foi lançado originalmente em 1991. Após a publicação de A Obscena Senhora D., Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão, e Bufólicas, Cartas de um sedutor é a quarta obra da autora a ser relançada pela Editora Glob, que publicará a obra completa de Hilda Hilst, incluindo 31 títulos, entre prosa e poesia.

O que se diz: "Por amar a condição humana, Hilda escreve", afirmou o escritor Caio Fernando Abreu, já falecido. Para Leo Gilson Ribeiro, importante crítico literário, que considera a autora o maior escritor vivo em língua portuguesa, "O espanto diante da criação de Hilda Hilst crescerá à medida que as gerações futuras consigam apreender a grandeza imune ao efêmero desta vivência escrita."

Rio de Janeiro 2002.


"CANTARES", de Hilda Hilst / Editora Globo.

Cantares reúne dois livros de poemas de Hilda Hilst. A obra revisita o tema do amor dentro da melhor tradição da língua portuguesa.

O livro:
Quinto título das Obras reunidas de Hilda Hilst publicadas pela Editora Globo, Cantares reúne dois livros de poemas, publicados, respectivamente, em 1983 e 1995: Cantares de perda e predileção e Cantares do sem nome e de partidas. Obras breves, ambas constituem um dos instantes mais densos do lirismo hilstiano, que aqui revisita o tema do amor, dentro da melhor tradição da língua portuguesa.

A história do livro:
Cantares de perda e predileção recebeu os prêmios Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, e Cassiano Ricardo, do Clube de Poesia de São Paulo.

O que se diz:
Segundo J. L. Mora Fuentes, escritor e jornalista, que compartilha a rotina diária da Casa do Sol com a autora, "Hilda Hilst pertence ao patamar dos grandes artistas, cuja essencialidade nos impõe o dever de preservar todos seus escritos... Sábia de requintes que nos permitem avançar no pouco-nada que intuímos de nós mesmos, Hilda desmascara sem pudor, seja com cascos, suaves garras, ríspidas carícias, nossos mais preciosos ícones. E assim revela nosso rosto verdadeiro."

Rio de Janeiro 2002.


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