| Gustavo Pellizzon |

Foi ao longo do Rio Jaguaribe que nasceu “Encante”, ensaio de Gustavo Pellizzon. O trabalho inédito é inspirado nas histórias e lendas dos rios e lagos brasileiros, tratando de forma lúdica a relação entre o homem e a natureza. A exposição traz 20 imagens além de instalações de vídeos, registrados em 2010, no período da seca, ao longo de diversas cidades ribeirinhas do Ceará.
No folclore brasileiro, os rios e lagos fazem parte da vida, da morte e do imaginário da população. Segundo os mitos influenciados fortemente pela cultura indígena, o “Encante” traz a ideia do lugar profundo.
Nele, vivem os “encantados”, seres humanos que não estão mortos, mas vivem em cidades submersas. Os “bichos do fundo” são protagonistas de diversas lendas, dentre elas e mais famosas, as do boto encantado, da Iara – Mãe d’Água, do Cobra Norato e Vitória-Régia.
Inspirado por esse imaginário, Gustavo Pellizzon percorreu 2.500km atrás de seu próprio “Encante”, viajando por diversas cidades ribeirinhas do Rio Jaguaribe (que tem origem em Inhamuns, o lugar mais seco do Ceará, desaguando em Canoa Quebrada). O fotógrafo fez questão de não fazer qualquer tipo de pré-produção, registrando pessoas que encontrava pelo caminho, se deixando levar pelo improviso. “Quando encontrava alguém, pedia para criar um personagem com o que tivessem em mãos. Podia ser a própria roupa, uma rede, uma vara. A ideia era criar algo em conjunto”, explica.
Por isso, o trabalho tem um misto de ficção e documental, dando a chance de Pellizzon criarum lugar próprio. “O caráter lúdico está justamente no que não existe, no que foi criado por mim e pelo fotografado. Mas esse “Encante” só pôde existir porque estávamos ali, naquele instante, naquele local”, completa.
A escolha pela época da seca também foi proposital já que as lendas tratam de histórias e segredos que se escondem no submerso. “Através da fotografia, criei um Encante unindo esses personagens e as paisagens do lugar”, conta. E completa “O barato da fotografia é que ela nos dá a possibilidade de criar um novo espaço, um universo que não existe”.
O projeto também tem como objetivo aproximar a população à arte contemporânea abordando questões ambientais. Por isso, a escolha do Centro Maria Teresa Vieira que atua na produção e ensino das artes há mais de 20 anos, além de ser um local estratégico, próximos a várias escolas e onde circula diariamente um grande número de pessoas de todas as classes sociais. “Vamos promover visitas guiadas com estudantes para compartilharmos idéias sobre a fotografia”, salienta.
(Fernanda Lacombe, Jornalista)
Gustavo Pellizzon nasceu em São Paulo, 1981. Graduado em comunicação e pós-graduado em fotografia, produziu trabalhos para as Nações Unidas, GEO, Le Monde, New York Magazine, Wall Street Journal, German Press Agency, O Globo, entre outros.
Atualmente, vive no Rio de Janeiro onde produz trabalhos fotográficos e multimídia para O Globo e para revistas nacionais e internacionais. Gustavo foi um dos nomeados para o Prêmio Pictet Prix, em 2010, e se juntou a um grupo de trabalhos selecionados do Prêmio Porto Seguro no mesmo ano. Em 2011, suas imagens ficaram em terceiro lugar no Picture of the Year Latin America, categoria ensaios de esporte e, em 2008, recebeu o prêmio Leica-Fotografe Melhor. Participou de exposições coletivas durante o Turin Photo Festival, na Itália, e Kaunas Photo Festival, na Lituânia. Em 2011 integrou a coletiva Geração 00 - A Nova Fotografia Brasileira, em São Paulo.

Rio de Janeiro 2012


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