Giselle Falbo - "Realidade Interna"
"Há alguns anos venho trabalhando com esta câmera cega que é a pinhole. Trata-se de uma câmara obscura, sem lentes, mas com buracos que funcionam como diafragma. Inicialmente, o que me capturou foi a idéia de que todo corpo oco, escuro e fechado, quando atingido por uma pequena abertura – um pequeno furo em sua superfície – passa a ser habitado por imagens. Esta fenda aspira os reflexos do mundo e o reconstrói assentando-o sobre o vazio que lhe é próprio. Uma espécie de olho voraz e cego que, ainda que não esteja vendo, olha. Mau olhado. Interessou-me, então, saber como as coisas olham.
Os primeiros trabalhos foram uma pergunta sobre o corpo, no qual fiz uma série de auto-retratos usando uma lata e fotografando sobre papel fotográfico. Retratos desenhados com luz e realizados no tempo do papel, que é lento. O resultado, imagens estranhas e profundamente familiares. Das imagens que recolho o que importa não é o efeito onírico que a forma abaulada da lata produz, mas a realidade da ficção inscrita no papel fotográfico.
Do corpo passei à casa. Os espaços internos da casa, com os vestígios daqueles que lá habitam, desenhados sobre o vazio do corpo da lata, vazio que imprime forma. As marcas que a presença do outro fixa como realidade, e a resposta que ela, desobediente, exigente e instável me devolve." - Giselle Falbo.
Rio de Janeiro 2004.
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