"lira dos cinqüent'anos" e "Volúpias Abomináveis" de Geraldo Carneiro.(Editoras: Relume Dumará e 7Letras, respectivamente)
O amor sagrado e seu reverso - o profano.©Alexandros Papadopoulos Evremidis*
Até dias atrás ele era Geraldinho. Agora, ao completar 50 anos, passou a ser Geraldo, afinal cresceu e amadureceu. Talvez continue eternamente Geraldinho para a "dulcíssima" mãe, as musas e as amigas do peito que por tanto tempo o ... "sustentaram" e inspiraram. Se bem que ele pode deixar de ser Geraldinho e maluquete, mas "enfant terrible" da poesia ele pelo visto não deixou de ser. Ele pinta, borda e apronta.
Uma tocada e dois livros para celebrar o aniversário de 50 anos: Na "Lira ...", Geraldo cita Auden - "After so many years life is novel / still and immensely ambitious" e com isso traça sua linha mestra - após meio século, a vida é um romance, ainda e sempre silenciosa e quieta, plena de ambições. Não há espaço para lamúrias e lamentações. Valeu a pena, já que não é dono de alma pequena, para citar o outro. E aproveita para, uma vez mais, lirica e idilicamente, cantar a vida, a morte, o tempo, os deuses e os demônios - o pandemônio! - e, principalmente, suas musas, as de carne e osso e as míticas, com todo amor e muito humor, parodiando aqui e ironizando ali. E para isso servindo-se, apropriadamente, da polisemia, da aliteração, da resonância, da consonância ... o diabo a quatro - tudo ferramentas que lhe conferem atributos de etérea leveza - uma brisa e um sussurro. Um romântico e um otimista incurável, que brinca e se diverte, como um eterno adolescente. Ainda bem!
Já em "Volúpias Abomináveis", escritas por seu curiosamente feminino heterônimo, Caroline Gebara, Geraldo extrapola, deita e rola; liberta-se dos eventuais pruridos e solta a franga. Resultado: chega às raias do paroxismo da comicidade e da hilariedade, da escatologia mesmo, sem no entanto abrir mão do seu modo enxuto de poetar. É ler para crer. E se divertir, com riscos de morrer de rir com "... seu rol de baixarias inomináveis". E inumeráveis.
Rio de Janeiro - 2002
©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > E-mail
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