Eduardo Berliner
Em seu processo criativo, Berliner utiliza materiais pouco convencionais como curativos, vidros, cacos, algodão, gaze, etc., não apenas por suas características formais, mas pelo valor conceitual que carregam.
Nesta exposição, o artista apresenta objetos e desenhos onde aborda temas fortes como violência e dor, mas que são contrabalançados pela delicadeza de seu traço e a ingenuidade da feitura de suas peças.
Trauma / CaduOlho para a indócil caligrafia de meu sobrinho e recordo o enorme trabalho envolvido em se escrever algo. Ação que será repetida inumeráveis vezes ao longo de sua vida, durante algum tempo, é um esforço colossal. A rigidez com que segura o lápis, a preocupação com as ligaduras acadêmicas, a desproporção entre sua mão e o instrumento de escrita, conscientizam-me do quanto encontramos espetáculos dignos de reflexão em pequenas coisas. E de algum modo tenho a mesma percepção através do trabalho do Eduardo.
Quando ele, meu sobrinho, erra e apaga com a borracha suas formas modestas, nunca fica satisfeito. A informação anterior insiste em permanecer. E eu falo para ele que assim é mais bonito, que um bom desenho é feito do acúmulo das dúvidas, erros e acertos que um artista encontra durante sua confecção. Que é importante almejar um trabalho limpo e bem executado, mas é mais importante ainda aprender com o delicado equilíbrio existente entre aquilo que se deseja e os ambíguos eventos que ocorrerão durante a realização deste desejo. Que no convívio com estes traumas cotidianos construímos um útil senso de tolerância que servirá para praticamente tudo na vida.
Exigir esse nível de “boa vontade” em uma criança de 10 anos talvez seja exagerado, mas em um artista não.
Rio de Janeiro 2005
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