"Fotografias", de Cécile Massart
A consciência crítica da ativista!©Alexandros Papadopoulos Evremidis*
As fotografias, os vídeos e as instalações de Cécile, embora delicadas e esteticamente perfeitas, tratam de um tema candente e perigoso - a radioatividade! Na presente exposição, na PUC/Rio, ela mostra o que se passa em usinas como a de Angra dos Reis e como isso pode ameaçar nossas vidas! O título do trabalho "UM LOCAL ARQUIVO PARA ALFA, BETA GAMA" é pleno de signos: LOCAL designa o lugar onde se armazenam tais resíduos e o arquivo trata da memorização, da armazenagem, da identificação e da situação dos mesmos na paissagem.
Os organismos encarregados praticam um sistema informático sobre o percurso desses resíduos e cada bidon tem um código de barras que o identifica e "conta" sua história. É aí que entra Cécile - há dez anos trabalha essas imagens informáticas. Para realizar seu PROJETO, Cécile, justificando sua posição de artista, obtém autorização, entra em tais locais e realiza uma REPORTAGEM. E então com base nos documentos acumulados, ela elabora a instalação, retrabalha as fotos, realiza as serigrafias, os livros de artista, as esculturas... E pronta está uma das obras mais singulares e significativas que o tempo atômico conhece.
"Este projeto não atinge somente o meio artístico, mas reune um conjunto de domínios que são ignorados. Eu constato que sou a primeira artista a visitar esses lugares com um projeto e eu sou fascinada por esse locais perigosamente esculturais e arquiteturais que respiram o tempo, a história, a imaterialidade, o drama da camuflagem", são palavras de Cecile em seu jeito integralmente poético.
Entrevista-relâmpago:
- Já que todo artista "pensa" e traduz o mundo, pergunto se ela é artista ou ativista? Para Cécile todo artista é, ou devia ser, um ativista do humanismo - única filosofia a que se filia.
- Aproveitando a atualidade da Conferência de Durban - ela considera o racismo um fenômeno natural ou cultural? Nem um nem outro, apenas medo do diferente. Só a superação dele fará os homens e os povos se compreenderem e conviverem em paz.
- Acha justo os países africanos exigirem indenização pela escravidão? Sim, acha justo, embora não haja preço para tanto sofrimento. Por um lado seria um alívio para os problemas econômicos mas por outro validaria uma vez mais a prepotência e a dominação dos impérios escravagistas.
- A mulher de hoje é real ou apenas nominalmente livre? Ela é livre e está em todas as áreas criando ou reinventando os caminhos do mundo. A mulher é parceira da vida.
- E ela conhece a célebre frase de De Gaule de que o Brasil não é um país sério? Não conhece mas discorda veementemente - muito pelo contrário, em suas 4 estadas no Brasil, conheceu pessoas conscientes de suas responsabilidades tanto no patamar nacional como mundial.
- Já o Cônsul Geral da Bélgica, sr. Michäel Ardui, que assistia a entrevista, escorregou dizendo que De Gaule tinha razão, ainda que em parte, e justificou a afirmação com o exemplo de que quando vêm autoridades de seu país para visitar o Brasil, eles, belgas, organizam tudo meticulosamente com meses de antecedência, enquanto que a contraparte brasileira improvisa com decisões de última hora.
- Quanto às políticas ambientais, ele reconhece que o Brasil tem uma das mais perfeitas legislações mas que infelizmente, na hora da prática, cada um faz sua própria interpretação ou cria a sua própria lei.
Rio de Janeiro 2000.
©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > E-mail
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