"Pinturas", de Carlos Pontual

São pinturas, colagens, objetos, esculturas, relevos que, resgatados do baú do passado e da intimidade, numa espécie de catharsis, revelam e expressam com ousadia e despudor a absoluta liberdade de que o artista dispõe em seu fazer artístico - ora lírico, ora saudosista e ora erótico, criativo e imaginativo sempre!

Seria também pornográfico? A arte desconhece as restrições morais e as rotulações, a arte opera com a inocência do olhar. Tanto assim, que o artista não se constrange em se servir de materiais inusitados, e até mesmo antiartísticos, tais como pregos, parafusos e tirinhas de couro, camurça, plástico. Destaque especial para a ninfa que, disposta e exposta em cândido e sonhador naturalismo, tem sua esplendorosa nudez cercada por sabonetes, supostamente por ela usados, das mais diversas fragrâncias - ainda ativas e embriagantes, alquímicas! Como contraponto, há esculturas de falos enormes e recortes preciosos das "partes" femininas que compõem o mosaico e o epicentro do desejo.

É arte, é macumba, é religião, é obsessão? Baratão se diz ateu e se confirma artista, daqueles que, desmistificando os conceitos acadêmicos, atingiram o tal estado de pureza e simplicidade em que não se precisa provar mais nada a ninguém. É só ir fazendo e encantando - seja as paredes, seja as gentes que a elas se voltam em esperançosa busca de fortes impactos emocionais e estéticos, sensíveis e daí também sensuais. Foi o que sucedeu aos amigos e pára-quedistas que ali acorreram na noite do vernissage - era um entra e sai de admiradores boquiabertos diante dos sedutores apelos das criações de Baratão. Pareciam estar no "barato", mais e melhor, em estado de graça. Vale a pena uma, uma não, várias visitas. Ver para crer e se deliciar com o lúdico descompromisso da arte.

A galeria Marcier é acolhedora, aconchegante e intimista. Entretanto, como o espaço original foi subdividido por uma parede para abrigar uma lojinha de roupas femininas, há um descompasso longitudinal que nos subtrai a visão em perspectiva das obras. Siga o feliz exemplo dos berlinenses, Marcier, não o retrógrado dos israelenses em vias de murar e emparedar os palestinos, e derrube aquela parede. Não há erro algum em a arte compartilhar aquele amplo espaço com as roupinhas - afinal, vestuário também é arte e cultura. Luíza Marcier, a jovem e bela figurinista/artista, disso sabe muito bem, já que logo se tornará mestre.

Rio de Janeiro 2004.

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico


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