| Bez Batti: Esculturas |

Mãos que transfiguram lava.

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

- Como é isso, Bez Batti, de viver cercado de todos os lados por basalto?! - questiono, referindo-me ao fato de ele morar em uma casa construída toda ela desse material vulcânico.

- Na verdade - devaneia Bez, após um breve rebrilhar dos olhos - sinto como se o basalto fosse um rio que fluísse todo ele por dentro de mim, que me atravessasse de ponta a ponta. Eu sou o basalto! - exclamou como se só naquele instante se desse conta disso. - Mas... e quem é você e o que faz na vida? - interroga intrigado.

Declino meu nome e digo que, eventualmente, escrevo sobre arte.

- Ah, então, está explicado: Você é crítico! - exulta exaltado, como se visse confirmada sua suspeição, para logo arrematar - Também não vou dizer mais nada. Minhas esculturas têm que falar por si e por mim.

- Mas eu também não pretendia perguntar mais nada, Bez - contemporizo. - Mesmo porque o que eu queria saber, as tuas criações já o disseram - brinquei e ficamos quites e trocamos um longo e afetuoso abraço, como se velhos amigos velhos. O restante foi só de amenidades, próprias do clima festivo dos vernissages.

Uma dedução ardia em mim: Pronto, pensei, aí temos o homem-basalto e sua postura diante da fatura. É inegavelmente um poeta! E ciente e consciente do seu métier.

Não é verdade o que dele dizem. Refiro-me ao hipotético e propedêutico criador que nos distantes idos teria apanhado uma porção de argila, modelado, nela soprado o pneuma e aí estávamos nós e os demais seres - os vivos e os, além de vivos, também, animados.

Na verdade verdadeira, sendo esse tal criador entidade mitológica, o verdadeiro criador se chamava Bez Batti e o material que usara para modelar/cinzelar suas criaturas não era argila, mas... basalto... basalto que ao fluir em estado bruto e primitivo por seu interior (Chronos não engoliu pedras?!) era processado e devolvido à natureza na forma de todos os habitantes do jardim do Éden (foi essa a impressão que me foi transmitida pelas galerias salpicadas, semeadas pelas criaturas do artista).

De fato, respeitando e preservando liturgicamente o caráter e as "imperfeições" do material, suas arestas, suas nódoas, suas saliências e sua espermática texturização, ora com mínimas intervenções - um breve risco aqui, outro curto traço ali - e ora com demorados e amorosos alisamentos, desbastamentos/desnudamentos - mais delicados aqui, mais incisivos ali -, o artista configurou, dotou de atributos personalizados e inconfundíveis e animou e deu realidade a tudo quanto fervilhante povoava e fertilizava seu expansivo imaginário, sua mitologia subjetiva e daí também intransferível. Tudo com toda sensibilidade, já que a tudo, que por suas mãos transitou, ele conferiu esse algo mais de sensível e de palpável, de peso e de volume, e de intensa, avassaladora sensualidade. E, contraponteando, também de sublimada, etérea e ideal transcendência, pertencente ao topos uranos dos platônicos paradigmas.

E foi assim que piano-piano, como se obedecendo a um divino plano, foi surgindo e ganhando vida a sucessão e a extensão de suas biomorfas e amorfas criações - os vivos-vivos, humanos e animais; os vivos-vegetativos, flores e frutos; os minerais, com sua informe forma e sua matéria, seu significativo e paciente silêncio. Como se à espera de algo - das mãos de Bez Batti, por exemplo.

Rio de Janeiro - Outubro - 2006

Alexandros Papadopoulos Evremidis = > escritor crítico > Email


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