"Um encontro com teu olhar", de Arlete de Andrade
Erotismo lírico e a um tempo devastador

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

O livro de poesias sutilmente inflamávéis, de tão eróticas e sensuais, "Um encontro com teu olhar", de Arlete de Andrade, acaba de ser lançado na Bienal de Sampa. Antes disso, entretanto, e durante algumas semanas, nós já tinhamos publicado aqui mesmo uma seleção de poemas que atestam o talento, a sensibilidade, o poder e o fogo da inebriante paixão de que a autora é consumida em seu fazer literário.

É preciso ler para crer e sentir as pernas tremerem, tal a emoção, o sentimento e o tesão superlativo, que jorram em dionísia abundância, para em seguida nos apaziguarem com seu poder catártico. Para quem ainda não tinha tido a oportunidade de se deliciar com a preview de Arlete, é só rolar a página e se deixar levar pelo desejo de amar.


"Meu Homem"

Quero tuas coxas entre as minhas
Nos lençóis em desalinho; nosso ninho.
Tuas mãos, tua tara, tua cara...
Teu corpo que me come, me consome!
Quero tua boca em beijos desmedidos,
Beijando meus ouvidos, tirando meus sentidos.
Tua língua lambendo meu ventre,
Meus gemidos, implorando que entre.
Quero teu sexo me roçando; penetrando...
Meu corpo rebolando, saciando tua fome.
Te quero, dengoso, gostoso; teu gozo.
Te quero amante, amado, meu homem!


"Meu corpo em tuas mãos"

Tuas mãos nuas em minha carne crua,
procuram carnívoras matar a fome tua
Revelam-se como um filme na escuridão, mostrando
Cada vez mais nítida a imagem desta paixão.
Que fingidoras, fingindo inocentes, tateiam, espalmadas,
Às cegas, às beiras.
Precipitando cavernas, em conchas, entrelaçadas as minhas,
Rastejam, e esquecidas se entregam cheirando a gozo.


"Sua boca"

Põe-me louca
Sua boca
Sugando-me os beijos.
Sua língua escreve em meu pescoço
Seus anelos.
Sua boca tem meus seios,
Meu menino me protege,
Resguardado em meus braços.
Desce louca sua boca
Nos beijos sem pudor.
Suga úmida
Meus desejos.
Sobe louca
Sua boca
Arrastando-se
Em minha carne trêmula,
Ofegante
Encontra a minha
Seca e louca
Em sua boca.


"Tua Musa"

Sou assim, musa de teus encantos.
Vejo teus olhos apalpando meu corpo,
E cedendo as tuas vontades
escravizo-me no açoite de tuas mãos.
Cura-me as chagas e abre caminho às
pragas de meus pecados.
Cunhas em ouro o metal vagabundo
que adorna meu corpo.
Torna-me princesa e me põe a teu serviço.
Faz-me gazela, donzela, a mais bela.
Suas mentiras são minhas verdades.
Espalha-me, e colhe de mim as sementes
de teus desejos.
Não me importo se comportas em mim
teus devaneios, meu consolo é vê-lo
dormir, exausto de amar.


"Bêbada de amor"

Hoje vou tomar um porre de paixão.
Embriagar-me com teus beijos, e
Completamente sem juízo falar coisas
desconexas em teus ouvidos.
Tonta de tanto mirar teus olhos, cair em teus
Braços, sem domínio algum sobre mim.
Trôpega , distribuindo desejos, abrir
o meu céu e me deixar penetrar
por tuas fantasias, e no clímax deste
instante, gozar a felicidade de estar
bêbada de amor.


"Súplica de um desejo", de Arlete de Andrade

Quero teu corpo. / Clamo teu corpo! Sinto doer-me o ventre a imaginar-te, / indecente, cumprindo tuas fantasias. / Ah como quero teu corpo! / Em mim um grito abafado, ecoam os meus pecados a desejar-te / assim. / Sim, eu quero, preciso do teu corpo! / Sinto pulsar as entranhas, quando te sonho bandeirante, as / desbravar terras estranhas, todas em meu continente. / Necessito do teu corpo! / Cada pedaço, rijo, teso, fazendo-me desfalecer: Abrasador, / ofegante, dentro de mim, amante, erupindo de prazer!

Rio de Janeiro 2004.

Alexandros Papadopoulos Evremidis = > escritor crítico > Email


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