| ana vidigal - sempre gostei de uma flechada de cupido |
"\Asas/ da/à cotidiana poesia!""Duas palavras: na natureza não existe apropriação indébita. Quem nela está, tem direito a tudo e tudo merece.
O diferencial se encontra no...o que cada um fará com tais apropriações - um será predator e levará o outro à extinção; outro, levará o barco adiante, para trás ou com ele sumirá, reduzirá a cinzas; outro ainda, aviltará, humilhará, aporcalhará, será cruel. Ana Vidigal foi chamada a transformar nossa prosaica e enfadonha existência em poesia pura - ludica, bem-humorada, afetiva e amorosamente. E + ñ dizer p' ñ corrompê-la!" - Alle Kunst.
A seguir, outros textos referenciais sobre a obra de Ana Vidigal e breve vitae:
“Materiais encontrados bidimensionais (materiais, por outras palavras, que podem, caso necessário, manter a planura e continuidade da superfície pintada) – papéis chineses e indianos, serpentinas, bandas desenhadas, fitas adesivas, individuais de vinil, padrões de costura, etiquetas, desenhos infantis (dos quais a sobrinha de Vidigal tem sido fonte fértil), bem como frases pilhadas de livros, filmes, poemas ou bandas desenhadas – são deslocados do seu contexto de origem e inseridos em ambos os tipos de produção: pintura e trabalho paralelo. A colagem afirma materialmente – por outras palavras, evidencia através das marcas deixadas por cortes, colagens e pinturas – os processos, e logo o tempo, da sua produção. Consequentemente, os materiais, tanto nas pinturas como no trabalho paralelo, afirmam-se como materiais pelo prazer hedonístico e intelectual que provocam, sem deixarem de ser vestígios e evocações de um passado vivido.”
(Ruth Rosengarten in Ana Vidigal, Assírio & Alvim, Lisboa, 2003)“Apesar de a materialidade, a voluptuosa facticidade das coisas e os vestígios da feitura e do processamento terem sempre caracterizado intrinsecamente a obra de Ana Vidigal, esta artista é também particularmente sensível ao poder da palavra. Elementos verbais são frequentemente introduzidos como complemento de peças plasticamente sedutoras. As palavras de Vidigal são sempre rapinadas, sempre de terceiros: recolhe frases da mesma forma que recolhe objectos. Este uso de objectos e palavras em segunda mão é um recurso distanciador, inibindo a pieguice e o sentimentalismo, que poderiam de outro modo ser as consequências fáceis de um trabalho sistemático com o passado. Sacadas de romances, poemas ou textos autobiográficos, ou então de bandas desenhadas, filmes, canções e outras fontes na cultura de massas, as frases são retiradas dos seus contextos originais e usadas para provocar novos significados, duplos sentidos, ou simplesmente como respostas vingativas a ofensas não mencionadas. De forma semelhante, os títulos usados por Vidigal não são nem descrições nem alusões: são antes elementos que suplementam e complementam as obras como parte do processo de montagem através do qual a própria peça é criada. Como tal as palavras têm uma presença tão plástica como poética. Provérbios populares mudam subitamente de tom; nomes ganham ressonância; verbos ou adjectivos tornam-se estranhamente irónicos ou perturbadores.”
(Ruth Rosengarten in Ana Vidigal, Assírio & Alvim, Lisboa, 2003)“Quem é, na obra de Ana Vidigal, esse Outro, ou melhor, essa Outra com quem fala incessantemente? A alteridade é, como vimos, condição da existência da sua pintura. Há um diálogo incessante na sua obra, que se vai construindo primeiro consigo, depois com a multiplicidade de figuras femininas, de modelos vários que estruturam a sua própria identidade.
Tudo se passa, nesta obra, como se a palavra e a imagem se imbricassem de modo tão íntimo que tornasse impossível a sua separação. Ou seja, tudo se passa como se a palavra funcionasse como imagem e a imagem como palavra, sem abdicarem das qualidades próprias que as diferenciam radicalmente.
Sem a existência de um Outro não há desejo, porque tudo o que existe (o espaço) é sem medida. É a possibilidade de um Outro, e fundamentalmente da apropriação do espaço por esse Outro, que permite a Robinson perceber a futilidade da sua tentativa de recriar demiurgicamente o mundo quando não existe mais ninguém para dele usufruir. Ou seja, é o Outro que, ao inserir-se no espaço da vida, permite estruturar a apropriação desse espaço – permite, em suma, desejá-lo.
(...) Neste espaço, a palavra e a imagem são, fundamentalmente, os laços de ligação com o Outro. Mesmo que o Outro seja o próprio Eu.”
(Luísa Soares de Oliveira in Ana Vidigal, Assírio & Alvim, Lisboa, 2003)Rio de Janeiro - Julho - 2005
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