| "Espectros" by Amador Perez |
Amador comovedor ©Alexandros Papadopoulos Evremidis*
Existe um lugar. E fica na Gávea/RJ. Da rua, através do portão gradeado, vê-se uma passagem relativamente estreita e mal-iluminada. De um lado, prédios de três a quatro andares; de outro, muros seguidos de arranha-céus. Assim, mais parece um túnel, só que desses que no final deixam divisar a luz, no caso, uma grande luz, do tamanho de uma janela que é quase parede inteira. E é essa luz que agora nos atrai. Quem nos recebe, à entrada da galeria, é a bonachona dona da galeria com seu sorriso largo e aberto, uma simpatia genuinamente brasileira.
Dentro da galeria estão Amador e seus convidados, os daqui e os do passado remoto, os de carne viva e os fantasmas retratados. Sim, é isso mesmo - Amador viajou pela história, revisitou os velhos, sempre novos e atuais, mestres e, para reafirmar sua perenidade, fez uma releitura dos seus auto-retratos, de Ticiano a Goya, de Velázquez a Ingres.
Bem, essa história de 're-leitura' possui muitas facetas: pode ser uma cópia, uma imitação, um emulação, uma apropriação, expropriação, desapropriação, etc e tal. Amador não escorregou em nenhuma delas. Ele simplesmente agiu como nas corridas de revezamento - pegou o flamejante estandarte e o levou adiante! E nos deixou todos comovidos, mexeu, e nuito fundo, com nossa memória afetiva, amantes (beirando a idolatria) que somos, todos de todos eles, desde infantes.
O interessante e até certo ponto inusitado, entretanto, nos trabalhos de Amador, é o meio, a inovadora técnica - ele não se serviu de telas, tintas, pincéis ou gravuras, mas de tonergrafias ('toner' vindo a ser o continente de tinta das impressoras a laser). Tendo como matriz básica postais com obras de artistas como Rembrandt, Munch, Courbet e outros monstros sagrados, ele foi recriando-os com dedicação monástica e precisão cirúrgica (plástica!). Afinal estava manuseando jóias raras. O resultado nada deve aos meios convencionais e, por que não? cada coisa a seu tempo, fica até no lucro. Nós só podemos nos congratular com Amador Perez que assim acaba de pagar parte da sua dívida imaterial por sua paidéia.
Rio de Janeiro 2003
©Alexandros Papadopoulos Evremidis = escritor crítico > Email
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