| "Alex Flemming: Flying Carpet - East Meets West" |
Vamos ao que interessa: Os gêmeos indo ao encontro das gêmeas?

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Dentro do vasto rol da contemporaneidade, Alex Flemming é, sem rastro de dúvida, um raro entre os raros, um autêntico contemporâneo - ativo, combativo e combatente.

Transcendendo as masturbadoras problematizações da arte, ele agora encarnou o que interessa, o candente e o incandescente. Invadiu a vida em sua totalidade, os campos fora da retina - a política, a sociologia, o corpo e sua sexualidade, único bem genuinamente democrático, que nos sustenta e nos afirma e confirma, mas que a toda hora é aviltado. E o que interessa, então, é tudo aquilo que desgraça e anatematiza o homem e a ecumene. Suas investidas, portanto, não são contra a natureza, nem contra um improvável, mas orientadas para o "homo homini lupus" - afinal o homem não precisa de outros inimigos (o inferno não são os outros?). Chegamos ao núcleo: Para Alex a arte já não é uma elucubrução, mas sim uma questão fundamental humana, uma experiência profunda - a sobrevivência do ser ou o nada.

Embora apártide, Alex toma o partido do humanismo incondicionale e, antenado e atento ao que ocorre a seu redor, qual franco-atirador e guerrilheiro, se põe a serviço da paz e do entendimento, veste a panoplia artística e se insurge e transgride - clama e conclama, desmonta, desarruma, desarranja, desconstrói.

Suas presentes criações, esses significativos flying carpets, mais que signos, semas e símbolos, parábolas são e beneficiárias de contemporânea mais-valia - ele não prega no deserto, mas lá onde está o cerne da ferida, cercada por coprófagos e saprófagos. Sim, Alex vai direto na carne e em sua delicada e frágil, fragílima, animação, a encantadora e adorável psique - humana, animal, vegetal e, quem sabe?, também mineral.

Alex sabe (e sabe porque sabe o quanto e o onde dói!) o que faz. Ciente e consciente, portanto, nada lhe será interdito - a Arte o guarnecerá com os códigos e as permissões necessários para a travessia dos corredores do labirinto. Não já levantou vôo montado em seus flying carpets?!

Rio de Janeiro – 2005

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > E-mail


| Alex Flemming - "Série Alturas" |

Um artista pleno - mutante e amebiano.

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

É prazeroso e recompensador, mas de modo algum fácil, escrever sobre a arte de Alex Flemming. Transgressor e insubmisso às leis e aos cânones, não se deixa ele instrumentar ou impunemente categorizar. Enquadrá-lo equivaleria ao inócuo e estéril onanismo, distante do desejado e criativo acoplamento. Igualmente temerário seria fazê-lo pintor, escultor, performer, instalador.

Ele mais se nos assemelha a um artista-filósofo ou um artista pensador, já que possuído por vigorosos pathos e pothos, sensibilidade e sensualidade, que aliados a um consciente e adquirido "Weltschmerz" configuram ferramentas condicionais no perscrutar e iluminar tudo que "humanum est", as humanas destinações, portanto. Entrega e, mais, doação. Uma poética lúcida e tectônica. Diremos então ser ele um artista pleno. Não satisfeitos, subtrairemos o pleno e o deixaremos apenas artista. Nu e exposto aos implícitos riscos e às supervenientes intempéries que lhe desafiam, aguçam e nutrem a libido.

Não é segredo sua incontrolavelmente passional atração pelo corpo - anima ou inanimado! Sabe ele da excelência da argila e da nobreza da carne - materiais plásticos radicados nas inexistentes origens do Caos e do Chronos. Retira Flemming, generosas porções, íntegras em sua fisicalidade e materialidade, e investiga-lhes a relação com o espaço, a geografia e o topos - aquilo de que fazem parte e o que confere forma às partes do conjunto. Mas também anatomiza a relação entre si - corpo a corpo, a favor, como no amor, e contra, como no "homo homini lupus" - não foi assim que mataram Vincent, armando-lhe o braço? Não estando aptos para o amor, sentiram-se prontos para o ódio.

Recorre o artista à física e à química, à constituição de todos e a transmutação de uns em outros. À antropofagia e ao canibalismo. E revela-nos noções que os místicos e os gnósticos diriam tratar-se de alquimia e milagre. Gênios afirmativos e positivos, entretanto, apontariam diretrizes de atividade eletrônica - valência e co-valência, simbiose e sinergia. É esta a força que move esse rapaz agitado e, daí, agitador, um rebelde e subversivo em permanente estado de excitação endócrina, medular e, fundo, nuclear. Mutante como Proteus por se expressar de cada vez diferente e amebiano por conquistar e ocupar os espaços, assumir as formas dos seus hospedeiros, sobrescrevendo o já existente e criando novos paradigmas regidos por originais sintagmas.

Na presente exposição "Série Alturas", Flemming pegou telas de dimensões sobre-humanas e "preparou-as", ou seja, movido pela absoluta liberdade oriental do gesto, com mãos ágeis e mente delirante, pintou-as com o que ele sub-repticiamente imaginou serem as cores das formas do/s seu/s universo/s. Falamos em preparação, mas na verdade ele poderia ter parado ali, já que, em qualquer hipótese, seriam obras dignas "per se" e prontas e acabadas, tanto para a meditação transcendental como para a tântrica, para o nirvana e para a convulsão órfica, tal o impacto estético e emocional que elas irradiam e em nós provocam.

Mas Flemming foi além - munido da disciplina geométrica, imprimiu sobre e dentro dos seus universos, em barras monocromáticas e de variedade prismática (de metais nobres ou pedras preciosas?), a altura física de alguns de seus afeiçoados que tanto podem ser ícones ou moldes, analogias e referências, metáforas e parábolas - avatares retratados de forma totêmica. Civilização comparada. Seria simplório cogitar da possibilidade de o artista ter ali registrado as alturas para fornecer elementos estatísticos a futuros antropólogos e ortopedistas. Não, mais razoável seria acompanhá-lo na oculta (?) intenção de ele colocar as alturas às alturas.

E já que, no dizer do presente estudante da arte, "a arte não pede licença, a arte toma liberdades", tomaremos a liberdade de uma intervenção - a de renomear a exibição de Flemming para "Série Estaturas". Mais óbvio, é verdade, e também menos poético, mas em compensação mais contundente e mais avassalador! E, por outra, mais próximo de nós, mais humano. Estátuas, luminárias, astros fulgurantes e guias de todos nós - dominados e subjugados. Estaturas morais, intelectuais, afetivas, humanistas. Estaturas prenhes de posturas. Grandezas.

Tendo citado o vocábulo astros, torna-se impossível fugir do seu coletivo que poderosamente se impõe. Sim, Flemming foi além do além e por intermédio da mais-valia da ferramenta "alfapictórica", neologismo que acaba de nos socorrer, salpicou os universos de seus amados homenageados com engenhosos grafismos - as multicoloridas letras de seus nomes, que agora cintilam como constelações a envolver e acarinhar dinamicamente as estáticas estaturas. Estaturas que, sabemos, são "Autobahnen" - supervias abertas nas entranhas do universo, por onde, dia mais dia menos, todos nós teremos o trânsito franqueado em busca do nosso desejado destino. Flemming, artista sensível e magnânimo, será como sempre generoso com o gênero que chamamos de humano. Pois que sigamos, em procissão e aos cânticos, seus rastros e suas pegadas, suas sinalizações.

Rio de Janeiro - 2004

©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > E-mail


"Bodybuilders", de Alex Flemming.

Geile Bilder gegen Heil Hitler
ou
A dor que a beleza do corpo na carne sente!

©Alexandros Papadopoulos Evremidis*

Não sabemos se a intenção era essa mesma, mas o composto "bodybuilders" brinca frenetica e foneticamente com a modelação do corpo em inglês e com as imagens - Bilder - do corpo em alemão. Isso porque o suporte declarado de Flemming é a fotografia, trabalhada "acrilicamente" para nos dizer da beleza ideal do corpo olímpico, que embora venha pronto e acabado, o homem com sua aesthesis pode modelar, como se argila viva fosse, material plástico, por excelência, portanto, sobre uma armação óssea. Tudo para, por meio da simetria e da proporção, alcançar o belo - fonte primeira, matriz e geratriz de toda hedoné.

Só que o corpo, seja ele individual, seja ele social, elemento sensível sempre, sofre e dói, sente dores ditas de causas naturais e dores infligidas por outros corpos. É dessas últimas que Flemming nos quer tornar conscientes pondo o dedo na ferida. Para tanto, desenha e pinta no próprio corpo/carne os mapas da dor - locais estratégicos onde ela é sentida e aponta os "topos" geográficos onde ela se origina - as regiões do globo terrestre onde as guerras são deflagradas e fazem, ao invés do esperma, o sangue correr, a fome e a miséria grassarem, o abandono e o descaso dos corpos por outros corpos imperarem - revelando-nos a cruel e desumana humanidade. E não importa se a dor é longe daqui, no Haiti, que também é aqui mesmo, na Somália, na Bósnia, nos Chiapas mexicanos ou na Armênia turca; o corpo humano é um só e a dor que ele alhures sente, sente também aqui.

Certamente não é mero acaso, ter Flemming escolhido a pele humana, a sensual epiderme com sua cor, seu brilho e sua textura ímpares no reino animal, para nela tatuar, quase escarificar, a dor que também o artista sente no comando central de seu sistema nervoso, solidário que é com a dor do "outro". Sabe ele que houve períodos na história em que os planos das guerras, depois das efêmeras areia, argila e tecidos vegetais, eram mesmo traçados sobre peles de animais e de humanos, como se os homens com isso quisessem antropofagicamente exaltar e enfatizar que, impotentes para amar o "outro", com os próprios corpos causariam dor em seu corpo e o feririam de morte, para assim, apoderando-se de sua alma, se fortalecer.

Flemming, com arte e com vigor, e com eleição absolutamente personalizada da cor, nos põe frente a frente conosco mesmo e nos faz sentir vergonha da nossa condição de civilizados, tão distantes que estamos do ideal olímpico da competição pelo belo e pelo nobre; nos faz ver que dissimuladamente continuamos a selvageria da competição pela posse, não amorosa, do outro, mas do poder de sua submissão e de seu domínio, de sua escravização. Et sic transit ...

Fotos: Caio Reisewitz, Fernando Chaves e arquivo do artista.

Rio de Janeiro – 2003


Para adquirir obras de arte, basta enviar Email - será encaminhado ao próprio artista ou ao seu galerista/marchand.

Artista, Escritor e +: ASSINE o RIOART e mostre suas criações aos qualificados leitores do Jornal e da Newsletter/InformArt enviada p/ jornalistas, galeristas, marchands, colecionadores, arquitetos, decoradores, críticos, editores, livreiros, leitores, produtores culturais, aficionados e afins: Email + 21 2275-8563 + 9208-6225


©Alexandros Papadopoulos Evremidis = escritor crítico > Email
Retornar ao Portal