Adriano Mangiavacchi
"O circulo (o anel) é símbolo de união e comunhão, de unidade e comunidade, de ligação, de casamento, de congraçamento e de abraço, de continuidade, símbolo de determinadas condições sociais. É a forma que certos encontros sociais com forte ligação de intentos assumem ao formar rodas para dançar, rezar e brincar”, explica Adriano.
As memórias de sua infância em Roma também referenciam a série Anelar: “A cúpula do Pantheon e o monumento do padeiro Eurisace eram visões cotidianas da minha infância e influenciaram diretamente no meu trabalho atual”.
Além de referências simbólico-pessoais, Mangiavacchi também cita influências formais e poéticas de artistas recentes – tanto modernos, quanto contemporâneos –, como os círculos de terra de Richard Long, os círculos concêntricos de Kenneth Nolan, os alvos de Jasper Johns, até os discos simultâneos de Robert e Sonia Delaunay. Anelar é, portanto, um ponto de confluência de significados heterogêneos. Ao conectar sistema, processo, acaso, fatura artesanal, materiais de origens variadas, memórias pessoais e coletivas e o legado de outros artistas, ele tece uma rede poética que empresta sentido à sua investigação pictórica.
Mangiavacchi utiliza em seus trabalhos telas e diferentes suportes, tais como: pedras, vidro, metais e imagens fotográficas. Segundo Fernando Cocchiarale, o uso continuado do círculo não deve ter significado circunscrito apenas a sua forma: “Se tomarmos de um ponto de vista ainda formal, mas agora referido à organização espacial de toda a série, Anelar aponta-nos também para a modulação do plano a partir de anéis regulares. Uma maneira quase impessoal, controlada e objetiva, de produzir, que se opõe ao modo de execução das pinturas anteriores de Adriano, uma vez que, ao contrário daquelas, a maneira atual deriva de um único um sistema”, diz Cocchiarale. E continua: “Na década de oitenta, a produção de Mangiavacchi, era então marcada pela abstração informal. Resultava de uma feitura livre, sem projeto prévio, exigida pela poética do artista. A ocupação do plano pictórico era feita pelo próprio ato de pintar, um espaço produzido pelas trilhas dos gestos que compunham cores com rigor espontâneo e sutilezas imprevisíveis. Um lócus quase ideal da expressão subjetiva e da ordem processual que dela decorria”, conclui.
Os novos trabalhos do artista são concebidos a partir de um projeto composicional permanente, que transborda o âmbito exclusivo da pintura. São obras com diversas possibilidades pictóricas, resultantes de uma pincelada livre e despreocupada com o espaço, que permite ao artista atravessar a pintura em direção às múltiplas possibilidades de experimentação contemporânea.

Rio de Janeiro 2010


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