| Adriana Maciel |
A silenciosa ordenação do cosmosAlexandros Papadopoulos Evremidis*
A arte de Adriana é inquietante, intrigante e instigante, misteriosa. Perpassada por um significativo silêncio, a estranha sensação que nos passa é que o espaço, tal como tempo, embora seja apenas uma criação de nosso intelecto, para nele situarmos os objetos reais, na verdade, é um muro de concreto cinzento e chapado. Monolítico e intransponível. Atemorizante.
Subitamente, Adriana, com sua varinha mágica, que pode ser um pincel, um lápis ou coisa parecida, interage com ele e com toques sutis e insinuantes movimentos penetra nele e dele faz surgirem recortes que remetem a fendas, frestas, janelas, portas, áreas de arejamento e levitação. Melhor: de suspensão da respiração.
Ou seja, ela conquista, doma e domestica o caótico espaço e dele extrai civilizados espaços adicionais, agora sim, de humana percepção e afinidade. Algo de egípcio ou da noire arquitetura de Cidadão Kane paira no ar e nos tira o ar. Resgatados os hieróglifos, e decodificados, nós nos reconhecemos nela e nos sentimos apaziguados. Tudo se nos afigura familiar e o que era pesado e assustador se torna "grego" no sentido particular que desejo aqui atribuir ao adjetivo, como matriz inspiratriz e também geratriz e intérmina nutriz da estética universal.
Rio de Janeiro 2006
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