"PINTURAS", de Teresa Asmar.
Antônio Houaiss para o catálogo da Exposição no Museu Nacional de Belas Artes:
Não se vai às mostras de pinturas, quadros, esculturas, objetos ou que outros nomes tenham para experimentar, necessariamente, emoções, correspondências, náuseas ou desconfortos interiores. Mas, de outro lado, não se vai sem a esperança, difusa que seja, de - quem sabe? - se entrar num mundo (pequenino que seja) que se acrescente ao nosso mundinho de cada um. Esse ir esperançoso às vezes enriquece (por que não, alarga, aprofunda, redimensiona, substancía? [o acento agudo, aí, está errado, mas facilita a compreensão do que quero dizer] o nosso mundinho (ou mundão, universo, pancosmo - segundo o "meu" grau de auto-suficiência ou onissapiência). Não raro, porém, sequiosos de estarmos em dia com a "modernidade" (que não raro é modernosidade ou, mais vanguardidisimidade), "gostamos" por não termos ainda visto (por atraso pessoal) ou por crermos que o "novo" é sempre melhor.
Este intróito (palavra feia, mas adequada ao caso) é para permitir-me falar da obra de Teresa Asmar - aqui e agora. É comovente a dedicação - voto, devoção, paixão, obsessão, obcecação, eis a palavra: amor - com que os artitas se dão ao seu horizonte, à sua razão de ser, de busca, como fanal, farol, faro, sobrevida, vida (há a palavra?). Aqui, a Asmar mostrou, antes, que certo geometrismo informal fortemente cromático e sem entretons era a sua linguagem - o que seria um milagre de precocidade, se ancorado nela. Não sei se encontrou - ou não - quem com ela dialogasse: coisa que importa, mas não importa enquanto "sua" arte não chegar àquilo a que ela aspira. Mas não lhe havia alternativa (não nos há alternativa, salvo o suicídio): prosseguiu (estamos prosseguindo): restaram-lhe vestígios geometrizantes, fusões cromáticas calentíssimas, manhas ou manchas (que melhor?) ardentemente fraternas mas não obscenas nem incestuosas, ocupações territoriais cromáticas totais, perseguidas, perseguindo a ela e a nós. Vieram outras fases, não importa buscá-las, é a borra, o lastro, o sêmen, o resto, o niil, o resquício, o índice, o vestígio de que houve essa coisa inimaginável que é a vida; e foi para ela, numa retroatividade multimilenar, que Asmar se nos apresenta agora.
Buscando pintar, pintar, pintar, tentando dizer o que só a pintura diz, mas não pode dizer (e é por isso que ela é "sua" linguagem) sem intermediações, não é espanto que a vemos voltar às fontes, ao concreto que supomos natural, visível, elementar, fonte, desejo, anseio, esperança, raíz, origem, a só razão de querermos e nos querermos - o corpo, mas, no nosso humanocentrismo (é concebível outro?), o humano: vejamo-lo, fêmeas e macho (um só, tão isento, tão limpo, tão adâmico). Se amo em Teresa Asmar a sua luta (e não o é?), amo o seu amor da pintura e as pinturas de sua pintura: paixão, devoção e esperança de amanhãs.
Antônio Houaiss
Foto divulgação.
Rio de Janeiro 2005
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