Leila Bokel - Obras recentes
"Função da fusão"©Alexandros Papadopoulos Evremidis*
Primeiro era o Logos. Não vingou. A fissão deu no que deu, Hiroshima, mon amour, e a fusão com altos, quantizados teores explosivos, arrematou para o bem o mal. O título supra, embora originalmente pensado como solvente do antagonismo figuração x abstração - esta ensejando/desejando destronar aquela -, segue válido para a arte de Bokel. Isso porque a verdade dos fatos invalida a insistência daquela em representar o mundo visível e o dogma desta - "representar" apenas o invisível, aquilo que de nenhum outro modo possível seria representar.
Confluindo, porém, para figuração abstrata e abstração figurativa, claro fica que em toda e qualquer abstração não é difícil resgatar resquícios da realidade que lhe serviu de substrato, ainda que travestida de devaneio, memória afetiva. A tônica, portanto, deslocada está - não vem tanto ao caso a aptidão para o fazer/dizer dos mundos objetivo e ideal, ambos reduzidos ao insuspeito testemunho da geometria, nem o emprego dos meios plásticos, cromáticos, formais, mas a irremovível, impulsiva, compulsiva, quase insana vontade de expressar emoções, sentimentos, estados particulares de espírito.
É onde Bokel se revela feliz. Conjura forças elementares – céu, terra, mar, ventos, tempestades - e em impactante sinfonia, rítmica e melódica, se expõe e se (nos) impõe. E nós a aceitamos e acolhemos com estóico prazer. Como recusar se, ao falar de si, do subjetivo, é de todos nós que fala, do universal, das humanas fraturas e das avassaladoras instâncias que a todo instante nos assaltam?!
Livre em suas criações de intensa emoção e lirismo e liberta da ditadura da cor e da forma, a artista não cede à tentação de resultados e tampouco a preconcebidos esquemas semânticos. Concebida a arte, e a vida, como processo, e portanto promessa, é aqui e agora, no ato de criar, que ela fia o tênue fio da atadura, trama a trama e trava a luta da afirmação do ser pleno. Alheia ao tempo-espaço, mas não alheada da dinâmica dos batimentos cordiais, da ofegante respiração, Bokel oficia, hieraticamente, ritos por meio de riscos arqueados e lampejos de manchas em turbilhonamento - sígnicos aqui, tachistas ali, gestuais e gestálticos adiante, simuladores de grafismos, colagens e... descolagens, diz ela, num "ben trovato" logismo, despojados de toda retórica e misti/miti/ficação. Por acaso, nada ali é acaso - pois, acaso por acaso, a Natureza faz mais e melhor.
Em suas criações, insisto, transcrito está o seu DNA e sua arte sinonima com desmedida paixão, pathos e pothos exibindo a estrutura íntima da febril rede das nervuras em movimento - sincopado, vibrante, ébrio. Daí porque tudo se configurar em delírio contido nos extremos limites do cognoscível e do inteligível. Por instantes, tem-se a sensação de, ao invés de com pincel, ter ela pintado com afiadas garras (de que certamente é provida), num approach absolutamente corpóreo, sensual, que invariavelmente conduz à extática exaustão, inclusive física. E de novo a aceitamos – não é essa a maravilhosa aventura porque ansiamos e que, apesar dos desgraçados percalços, temos de nossa e a ela nos agarramos?
É tudo abstrato e é tudo real, razão porque arranha o cérebro. Mas, com tudo somado e subtraído, resta-nos a tranqüila sensação de obras resolvidas em termos e terrenos de criatividade. E de muamba uma suspeita - a de serem psicografados gráficos de suas (nossas), ora tumultuadas ora plácidas, paisagens íntimas. É como se Bokel nos encarasse e dissesse: Esta sou eu e estas, as turbulências do ser - vistas de abismos interiores, frações de angústias e dores, sonhos e fantasias da relação com o "Outro", o mundo.
Rio de Janeiro - 2006
©Alexandros Papadopoulos Evremidis > escritor crítico > E-mail
Sem título | 60x80cm | acrílica s/ tela
Sem título | 60x80cm | acrílica s/ tela
Sem título | 130x140cm | acrílica s/ tela
Sem título | 140x150cm | acrílica s/ tela
Sem título | 100x120cm | acrílica s/ tela
Sem título | 80x100cm | acrílica e jornal s/ tela
Sem título | 80x100cm | acrílica e jornal s/ tela
Sem título | 110x140cm | acrílica e jornal s/ tela
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